domingo, julho 08, 2007

O grande Bostridge

Aos 42 anos, Ian Bostridge é um dos mais aclamados e bem sucedidos tenores da sua geração. Nasceu em Londres em 1964, estudou história e filosofia. Terminou um doutoramento em Oxford em 1990, apresentando um trabalho sobre os significados da feitiçaria na sociedade britânica de 1650 a 1750 (texto publicado pela Oxford University Press em 1997). Pouco tempo depois a música soou mais alto, iniciando os estudos sob alguns programas de apoio, estreando-se publicamente em 1993, dando o seu primeiro recital como solista dois anos depois. Encetou a sua carreira editorial pela Hyperion Records com canções de Britten, em 1997, mas desde 1998 é uma das presenças mais sólidas do catálogo da EMI Classics. Nos últimos dez anos, Ian Bostridge participou em algumas produções de ópera, tendo todavia maior exposição enquanto cantor solista, gravando com regularidade e fazendo digressões com enorme frequência (já com passagem por Lisboa). A escrita, contudo, nunca o abandonou, e durante algum tempo assinou textos sobre música para publicações como o The Times Literary Supplement, BBC Music Magazine, Opera Now e o The Independent. Em 1998 publicou um livro sobre música (e o canto, em particular). Neste momento o seu irmão, o biógrafo e crítico Mark Bostridge, está a preparar um livro sobre a sua vida e trabalho, que deverá chegar aos escaparates com o título My Brother, Myself.

Great Handel corresponde à segunda incursão discográfica de Ian Bostridge pela música do “grande” George Friedric Handel (1685-1759), sete anos após o relativamente pouco visível L'allegro, il penseroso ed il moderato, gravado na companhia de John Nelson, para a Virgin Classics. Após bem sucedidas gravações de Schubert, Wolf e Britten, Ian Bostridge junta-se à Orchestra Of The Age Of Enlightment, dirigida por Harry Bicket, para gravar uma série de árias de óperas e excertos de outras obras, entre as quais o inevitável Messias, paradigma de referência de um dos mais centrais cânones musicais da tradição clássica ocidental. O alinhamento percorre uma diversidade notável de caminhos, com natural predominância da extensa produção operática de Handel (em grande parte redescoberta nos últimos 30 anos), estando igualmente bem representados alguns dos seus mais significativos oratórios. Num soberbo texto que se apresenta no inlay, o próprio Bostridge explica a sua relação de profunda admiração pela obra de Handel e vinca como, apesar da enorme profusão de música que compôs para castrati, recuperada agora por vozes femininas e para contratenores, não podemos deixar de reavivar a memória do repertório para tenor que o compositor nos deixou. Great Handel, justifica Ian Bostridge, deve muito a uma relação pessoal do cantor com a obra do compositor. Cantou-o na escola, escutou-o em muitas salas de concerto e aqui devolve à vida uma música a que grandes outros cantores ingleses deram corpo. Num mesmo disco, Bostridge oferece uma representação consequente da obra de Handel, dando voz ao seu desejo de recuperar o seu repertório para tenor. Como sempre, brilha.