* O lugar-comum é um crime cultural. Porquê? Porque sob a capa da evidência nos instala na impostura do equívoco, por vezes na pura estupidez da mentira.
* Lugares-comuns sobre Manoel de Oliveira? Há-os infinitos, sobretudo espalhados pelos que menosprezam os seus filmes ou nem sequer os vêem (por vezes, vindos do interior do próprio cinema português).
* Por exemplo: que todos os filmes de Oliveira são longuíssimos, durando várias horas. Claro que os filmes não são "bons" nem "maus" por serem "longos" ou "curtos"... Mas será que já alguém reparou que qualquer título da série "Harry Potter" (e já lá vão cinco) tem duração superior a qualquer das longas-metragens que Oliveira dirigiu depois de 1994 (e são catorze)?
* Há dias, consultando a ficha de Manoel de Oliveira no IMDb (site cuja utilidade global não está em causa), na lista das "trade marks" do cineasta, deparei com esta espantosa afirmação: "Camera always steady without camera movements". Como? A frase é, em si mesmo, uma disparatada redundância: se a câmara está sempre fixa, isso significa que não há... movimentos de câmara. Mas é também uma desavergonhada informação.
* Será que quem escreve coisas destas no IMDb — e, sobretudo, quem as aprova — viu Benilde ou a Virgem Mãe (1975) e, por exemplo, o seu genial plano de abertura em que é revelado o cenário? Poderíamos acumular dezenas de exemplos. Mas, para abreviarmos, será que conhecem o novo Belle Toujours e, por exemplo, o espantoso jogo de olhares entre Michel Piccoli e a estátua dourada no largo do hotel onde vive Séverine? Será que, face a um filme, há quem já não saiba sequer sentir quando é que uma câmara se move? Estes especialistas da cegueira interpretativa serão incapazes de ver — e, já agora, compreender — que há um maior peso relativo de planos fixos numa qualquer intervenção televisiva de Marcelo Rebelo de Sousa ou António Vitorino do que em muitos filmes?
* O problema, entenda-se, não é o juízo de valor que quem quer que seja possa exprimir sobre um filme de Oliveira (ou, em boa verdade, de qualquer outro cineasta). O problema é a proliferação desta espécie de "língua franca" do cinema que já nem sabe descrever os elementos mais objectivos dos filmes, favorecendo antes a apatia, o conformismo e o efeito de normalização compulsiva próprios do lugar-comum.
* Lugares-comuns sobre Manoel de Oliveira? Há-os infinitos, sobretudo espalhados pelos que menosprezam os seus filmes ou nem sequer os vêem (por vezes, vindos do interior do próprio cinema português).
* Por exemplo: que todos os filmes de Oliveira são longuíssimos, durando várias horas. Claro que os filmes não são "bons" nem "maus" por serem "longos" ou "curtos"... Mas será que já alguém reparou que qualquer título da série "Harry Potter" (e já lá vão cinco) tem duração superior a qualquer das longas-metragens que Oliveira dirigiu depois de 1994 (e são catorze)?
* Há dias, consultando a ficha de Manoel de Oliveira no IMDb (site cuja utilidade global não está em causa), na lista das "trade marks" do cineasta, deparei com esta espantosa afirmação: "Camera always steady without camera movements". Como? A frase é, em si mesmo, uma disparatada redundância: se a câmara está sempre fixa, isso significa que não há... movimentos de câmara. Mas é também uma desavergonhada informação.
* Será que quem escreve coisas destas no IMDb — e, sobretudo, quem as aprova — viu Benilde ou a Virgem Mãe (1975) e, por exemplo, o seu genial plano de abertura em que é revelado o cenário? Poderíamos acumular dezenas de exemplos. Mas, para abreviarmos, será que conhecem o novo Belle Toujours e, por exemplo, o espantoso jogo de olhares entre Michel Piccoli e a estátua dourada no largo do hotel onde vive Séverine? Será que, face a um filme, há quem já não saiba sequer sentir quando é que uma câmara se move? Estes especialistas da cegueira interpretativa serão incapazes de ver — e, já agora, compreender — que há um maior peso relativo de planos fixos numa qualquer intervenção televisiva de Marcelo Rebelo de Sousa ou António Vitorino do que em muitos filmes?
* O problema, entenda-se, não é o juízo de valor que quem quer que seja possa exprimir sobre um filme de Oliveira (ou, em boa verdade, de qualquer outro cineasta). O problema é a proliferação desta espécie de "língua franca" do cinema que já nem sabe descrever os elementos mais objectivos dos filmes, favorecendo antes a apatia, o conformismo e o efeito de normalização compulsiva próprios do lugar-comum.
* O lugar-comum é, sobretudo, um crime contra a nossa consciência: impede-nos de olhar e pensar a diversidade do mundo.
P.S. - Por mera curiosidade, vale a pena referir o filme mais curto este ano lançado nas salas portuguesas: chama-se Belle Toujours, foi realizado por Manoel de Oliveira, e dura 68 minutos.