quinta-feira, julho 19, 2007

Em conversa: Laurie Anderson (2)

Segunda parte da versão integral de uma curta entrevista com Laurie Anderson a propósito da apresentação do espectáculo 'Homeland' em Portugal, publicada dia 15 no DN.

Esta América que agora canta em Homeland difere muito da que reflectiu em United States I-IV, há 25 anos?
Este é mais um projecto musical, enquanto esse era mulimedia... Mas também começou pela música, é verdade. Agora, todavia, já não digo que não vou fazer projectos multimedia. Porque logo que o disco ababo a fazer outro... Mas acho que o mundo não precisa de outro espectáculo multimedia meu.

Nos 80 gravou discos de canções com mais regularidade. Depois aconteceram com maiores intervalos. Mas a verdade é que acaba sempre por voltar à canção...
Porque tem a ver com o przer da música em si... Mas não vejo esses movimentos como de ida e regresso. Os últimos espectáculos que fiz tinham música... Mas para cada projecto vivo uma espécie de batalha que decide o que é protagonista. Se a música, a imagem, as palavras... É difícil de explicar, mas tem de haver um elemento líder. E neste caso agora é a música.

Estas canções não estão ainda gravadas. Está a contruí-las a cada actuação?
Sim… Faço versões diferentes de cada uma contantemente. Umas mais calmas, outras mais intrensas.. Na verdade é como se fosse uma conspiração com o público que asiste ao espectáculo, que me ajuda a escolher e me influencia. Em Bruges, num grande festival, perante milhares de pessoas, as canções ficaram mais vivas. É divertido… Logo a seguir estávamos num pequeno teatro lindíssimo, e fizémos um concerto mais delicado. Vamos para onde a corrente nos leva…

E na hora de gravar como escolhe a atitude que define a versão a registrar em disco?
Essa é uma boa questão… Tenho estado a ouvir algunas das gravações e não sei. Não sei responder…

Talvez a sua disposição nesse dia…
Talvez… O melhor era editar todas as versões… Mas isso é uma das coisas que mais me encanta hoje ao fazer discos. Hoje não temos de procurar a versão definitiva de nada. Podemos editar o registo de todos os concertos que fazemos. Há muita gente a fazê-lo… Mas gosto de escolher…
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Big Science acaba de ser reeditado. Como foi o seu reencontro com esse disco?
Sabe bem ouvi-lo de novo. Não o escutava há 25 anos! Quando me disseram que o iam reeditar não me entusiasmei inicialmente. E fiquei horrorizada ao ouvir de novo a versão que havia em CD, feita no início dos anos 90, quando a compressão do som era muito má… Soava mesmo mal. Fiquei satisfeita por poder voltar a dar ao disco o seu som. Foi como fazer arqueología. Foi entusiasmante pegar nos masters originais… A música hoje já não se grava como o fazíamos nessa altura. A música dantes captava-se depois de fluir pelo ar… Agora o proceso é todo digital…

Há um projecto de regravação do tema-título do álbum, com Lou Reed e Anthony Hegarty…
Pegámos em algunas canções antigas e acrecentamos alguns elementos novos, é verdade. Vamos editá-la em formato para download digital.
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Quando lançou o álbum Big Science era essencialmente vista como uma artista experimental a ensaiar a linguagem pop. Em 25 anos os espaços das artes de vanguarda e os da música “comercial” mudaram muito?
Talvez haja menos distância entre ambos, mas nada por aí além... A grande diferença é o facto de haver mais jovens artistas a sair das universidades. Talvez tenham menos oportunidades para ser artistas, pelo que acabam a fazer design para companhias comerciais... E o mundo da publicidade hoje é mais belo... Aí diluiu-se a noção de barreira entre vanguarda e arte comercial. Há mais gente a fazer várias expressões artísticas em simultâneo.
Foto de K. Kennefick