quarta-feira, julho 11, 2007

Discos da semana, 9 de Julho

Mais uma proposta sueca, esta no departamento dos cantautores (que já este ano nos revelou Peter Von Poehl), mas com um elemento menos habitual: as electrónicas como protagonsitas, no lugar habitualmente ocupado pelas guitarras. Ele chama-se, muito simplesmente, Ebb. E o seu álbum de estreia, Loona, mereceu os maiores aplausos no seu país natal no ano passado, tendo mesmo conquistado alguns prémios de vulto, nomeadamente a categoria de “melhor álbum electrónico” do Manifest Prize, o mais importante galardão para música alternativa no país dos Abba. Chamar-lhe cantautor é, ao mesmo tempo, uma necessidade de nomenclatura mas, também, uma imprecisão formal enquanto sugestão “estética”, dadas as conotações historicamente associadas a esta designação. Ebb escreve e compõe a sua música. E canta-a. Daí o cantautor (pose que a imagem, na capa, da figura com guitarra na mão, claramente deseja vincar). Mas, contra a norma na maioria das carreiras assim definidas, a construção cénica e textural ocupa-o tanto quanto os demais processos criativos. Milimétrica, a construção das belas cenografias digitais que acompanham as canções é prova de uma demanda paisagística que habitualmente encontramos mais em projectos de electrónica minimalista e textural (de Murcof aos Matmos) que nas trovas de cantautor. A voz, frágil (por vezes lembrando a de Jonsi, dos Sigur Rós), e o ocasional dedilhar de uma guitarra, acentuam depois o confronto entre o humano e o glacial de que esta música parece ser retrato. Estamos num terreno próximo do que os Kings Of Convenience pisaram nas suas aventuras electrónicas, todavia sem o apelo “quente” das referências de outras latitudes que o duo norueguês usa para quebrar o gelo. Ebb mantém-se numa zona de gelo eterno, a música procurando pontuais pontos de calor onde à voz cabe o papel de última réstia de humanidade e vida num campo desolado em seu redor. Um disco frágil, poético, arrebatadoramente belo. E para descobrir aos poucos, como quem bebe um café muito quente em fria manhã de Inverno...
Ebb
“Loona”

GayMonkey / Última
4/5
Para ouvir: MySpace


Uma das forças mais representativas do fenómeno pós-rock em finais da década de 90, o projecto Mice Parade continua a manter viva a vontade de não cristalizar ideias em torno de um tempo ou um destino. O desafio da abordagem à voz (num projecto inicialmente instrumental), que tomou evidente protagonismo nos álbuns Obrigado Saudade (2004) e Bem-Vinda Vontade (2005), revela aqui sinais de positiva evolução. Ao mesmo tempo, Adam Pierce sublinha traços personalidade pela omnipresença da percussão, que abre, define e conduz todas as composições. Cada vez mais próximo das estruturas “clássicas” da canção (segundo vectores de aproximação todavia distintos dos que temos acompanhado com os Sea and Cake), Adam encontra aqui um estimulante patamar de exploração “pop”. A sua voz, tranquila, que estabelece curioso jogo de contrastes com a intensidade (e sentido de respiração e liberdade) das estruturas rítmicas que suportam as canções, conhece pontualmente a companhia de duas presenças distintas (e imediatamente reconhecíveis). São elas Laetitia Sadier (Stereolab), em Tales of Las Negras, e Kristin Anne Valtysdóttir (Múm) em Double Dolphins On The Nickel. Contudo, apesar de essencialmente rendido à canção, é nos instantes em que a música respira horizontes mais distantes e as texturas ganham corpo que a música de Adam Pierce mais entusiasma. Mesmo assim, um interessante episódio de procura numa obra que sempre gostou de lançar mais sugestões que concretas visões.
Mice Parade
“Mice Parade”

Fat Cat / Flur
3/5
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Ao escutar, em 2002, o espantoso Turn On The Bright Lights, logo houve quem adivinhasse futuro risonho aos sombrios Interpol. E com razão. Eram os primeiros a revisitar, com segura personalidade, modelos outrora explorados por bandas como a Joy Division ou os Chameleons (mal imaginando que abriam filão que, entretanto, se tornou a mais fácil ordem do dia do momento). Depois de Antics (2004), uma continuação em jeito de sólida manutenção, eis que ensaiam real nova visão ao terceiro álbum (que assinala, também, o primeiro lançamento por uma multinacional). A abertura, ao som de Pioneer To The Falls, alerta para um outro sentido de ambição e grandiosidade, à qual a voz segura e assombrada de Paul Banks responde na perfeição, os arranjos mais polidos e elaborados a construir aqui uma peça de consistente magnanimidade pop. Um clima de surpresa que se sublinha logo a seguir em No I in Threesome, com cereja sobre o bolo, à faixa três, no já conhecido (e assombroso) The Heinrich Maneuver. O álbum, contudo, começa, depois, a revelar que, na verdade, sofre de um certo complexo de “meias tintas”, dividido entre o desejo de aventura que a abertura (e o encerramento, no sublime The Lighthouse e, a meio, no convincente Rest My Chemistry) revelam, mas perdendo razão e viço quando, a meio, parece tentar jogar no seguro. Ou seja, num jogo de baralha e volta a dar, todavia sem aí nos esmagar com uma grande canção. É certo que não mostram sequer sinais de oportunismo de gestão de onda (como recentemente escutámos no segundo álbum dos Editors). Mas de uns Interpol esperava-se mais. Sobretudo depois de verificarmos que em cinco dos 11 temas do disco, precisamente aquelas em que enfrentam novos desafios, são capazes do melhor... Talvez no próximo disco...
Interpol
“Our Love To Admire”

Capitol / EMI
3/5
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Da Escandinávia continuam a chegar interessantes sinais de infinita variedade (e quantidade) musical. Os últimos anos deram sinais de pungente actividade dos departamentos ligados à chamada “música de dança”, com figuras como o sueco Jaspar Dahlback (DKJ), os seus compatriotas The Knife ou os noruegueses Lindstrom e Prins Thomas a assinar discos globalmente reconhecidos. Mais um exemplo decididamente interessante chega da Suécia. Sob a designação Studio apresentam-se dois músicos: Dan Lissvilc e Rasmus Hägg. Há quem lhes conheça mais o design geometrista das capas e T-shirts. Mas está na hora de ouvir a música que esse design serve. E West Coast pode ser um bom cartão de visita. Com apenas seis faixas (a primeira das quais com quase 16 minutos de duração), revelam uma abordagem reflectida sobre modelos de várias épocas e proveniências, na essência buscando a construção de um híbrido com sentido de corpo e humanidade com recentemente escutámos em discos de projectos como os Spektrum, Out Hud, Kudu ou !!!. Uma geometria dub parece ser aqui o suporte estrutural, sobre ela evoluindo referências e construções, ora em busca de paisagismo ambiental (como em Out There, a faixa de abertura onde é evidente um flirt com as dinâmicas do prog), ora com a canção em mira. Aqui, ecos dos anos 80 são tomados como máscaras a vestir, cada qual para sua encenação. West Side cita os The Cure, em cruzamento com um trajar rítmico afro beat. Self Service reinventa o que seriam ois Style Council se menos temerosos do funk, em dia de descoberta de electrónicas de finais de 70. Os Durutti Column de meados de 80, transfigiurados para cenário electrónico, como se pensado por uns A Certain Ratio com ordem para fazer música “calma”, parecem morar em Origin. Mundos de texturas, ritmos, com pontuais flirts pop, para descobrir.
Studio
“West Coast”

Information / Última
3/5
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Josh Rouse é talvez um dos mais sobrevalorizados cantautores da geração “noughtie” (ou seja, da década dos zeros, aquela em que vivemos). O que, todavia, não o reduz à categoria de equívoco! Depois de quatro discretos álbuns, atingiu merecida exposição com o álbum de excepção que foi 1972 (2003), cabendo ao sucessor Nashville (2005) um seguro jogo de continuidade. Cenas de vida doméstica afastaram-no dos Estados Unidos (ele é natural do Nebraska) e da mulher, encontrando nova casa (e companhia) em Espanha. Aí gravou o “menor” Subtítulo e, mais recentemente, um EP de parceria com Paz Cruz, She’s Spanish, I’m American. Country Mouse, City House, um ano depois, é o disco que o reconcilia com o seu país natal. Reaviva memórias de músicas que certamente escutou nos dias em já passou por estados como, além do Nebraska, o Dakota do Sul, Utah, Geórgia ou Arizona e, sobretudo, Califórnia. A luz californiana, de resto (ou será ainda a de Espanha) alimentam um disco que, mesmo feito de balanços suaves, é claramente mais optimista e sorridente que outros que no passado nos deu. Mais pop (bem mais pop, mesmo), pontualmente temperado a travo soul (evidente em Italian Dry Ice), um conjunto de canções que reflectem nova etapa numa vida que já soma oito discos. Este, apesar de tudo, sendo dos menos cativantes que gravou depois de definida uma linguagem em 1972, aos arranjos, excessivamente presentes e frequentemente decorativos, cabendo o instalar de um certo clima de placidez inconsequente que se sugere. Excepções, como Sweetie, Domesticated Lovers ou God, Please Let Me Go Back alimentando a sede dos admiradores de um cantautor que já viu melhores dias...
Josh Rouse
“Country Mouse City House”

Bedroom Classics / Edel
2/5
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Também esta semana:
Buffalo Tom, Smashing Pumpkins, Leonard Cohen (reedições – lançamento local), Nick Drake (best of), Scott Matthews, Mooney Suzuki, Young Marble Giants (reedição), Recoil, Spoon, Mutantes (best of), Ian Bostridge (Handel), New Young Pony Club

Brevemente:
16 de Julho: O. Golijov, David Bowie (DVD), Teddy Thompson, Wonderstuff (BBC sessions), Kula Shaker (best of), Levellers (reedições), Philip Glass (archive edition. vol1), Traveling Wilburys (reedição – local), Pearl Jam (caixa – live), Laurie Anderson (reedição)
23 de Julho: The Thrills, Garbage (best of)
30 de Julho: Common

Agosto: Kula Shaker, Todd Rudgren, Debbie Harry, Fairport Convention, Architecture In Helsinki, Jim White
Setembro: Animal Collective, Lambchop, Mazgani, Go! Team, Múm

Estas datas podem ser alteradas pelas editoras a todo o momento