terça-feira, julho 03, 2007

Discos da semana, 2 de Julho

Serão os Chemical Brothers a super-banda da música de dança? Apesar das tentativas bem sucedidas de nomes como os Orbital, Prodigy, Fatboy Slim, Groove Armada ou Basement Jaxx (uns durante várias temporadas, outros em mais pontuais episódios), nenhum projecto conseguiu, como os Chemical Brothers, transportar tão bem a música de dança (e a sua carga emotiva) para a dimensão dos palcos de estádio (e dos festivais). Mantendo firmes canais de ligação evidentes com a cultura e vozes do rock’n’roll (de Beth Orton a Tim Burgess, de Noel Gallagher a Wayne Coyne), definiram uma forma muito própria de sugerir euforia por via digital, numa lógica de crescendos constantes, até ao clímax final. Para crescer, mais ainda, logo a seguir... E mais adiante… Ao sexto álbum, a necessidade de experimentar outras estratégias para atingir a mesma eficacia “química” revela-se agora como uma das preocupações centrais desta dupla criativa. E a verdade é que We Are The Night não só leva a bom termo as suas diversas propostas de renovação de rotas e destinos, como acaba por se revelar o melhor de todos os seus discos de originais. Do it Again, single de avanço (apoiado, como sempre, por um espantoso teledisco), já denunciava uma fuga inteligente à lógica de construção habitual, esboçando, por via de uma pulsante arquitectura quase minimalista, igual capacidade de encantamento. O restante alinhamento do álbum, que em muitas ocasiões aceita o desafio da canção, revela agora outras mais manobras de contaminação. Os Klaxons têm justificado protagonismo em All Rights Reversed. Mais surpreendente (e espantosamente elegante) é a colaboração dos Midlake na balada pop The Pillows Won't Help You Now, que encerra o disco (que, se editada em single, claramá ainda mais pela noção de diferença que o álbum exibe). Das Spiegel, por sua vez, parece citar o clássico Your Silent Face, dos New Order. Fat Lip dá oportuno sabor hip hop ao devaneio adocicado de The Salomon Dance. A Modern Night Conversation evoca o hi-nrg, ao estilo de Patrick Cowley. A força maior de We Are The Night é, contudo, o sentido de coesão que sugere. Um disco menos suado, menos enérgico. Mas igualmente capaz de ser intenso.
Chemical Brothers
“We Are The Night”

Virgen / EMI
4 /5
Para ouvir: MySpace


Os Simian foram uma das mais injustiçadas bandas indie pop do início da presente década (os seus álbuns Chemistry is What We Are, de 2001 e We Are Your Friends, de 2002, merecem ser reavaliados). Sem que ninguém desse por isso, saíram de cena, dois dos seus elementos - James Ellis Ford and James Anthony Shaw – tendo entretanto deslocado a sua perícia técnica para o serviço de remisturas para nomes como os Go! Team, Air ou Klaxons. Remisturas que destacavam prazer rítmicos sob regras electrónicas, mas em evidente contexto rock’n’roll. Ou seja, música de dança para quem dela julga que não gosta... Remisturas assinadas como Simian Mobile Disco (SMD). Passo seguinte? A composição de temas originais... Começaram cautelosamente pela edição de singles. E, oito que estão já no mercado, apresentam finalmente um álbum. Hustler, o interessante single editado em 2006, afinava em definitivo a fórmula SMD de construção, num espaço algures entre a canção e as mecânicas da electrónica dançável do presente. Já em 2007, It’s The Beat indiciava uma certa incapacidade (ou, para já, falta de vontade) em fugir ao modelo. E, agora, Attack Decay Sustain Release não mostra muito mais... O álbum é uma infindável repetição (para dez faixas) de soluções e modelos, onde a intensidade rítmica e eventual pujança digital não escondem uma inexistência de portas alternativas, pontos de fuga, não bastando o tempero acid de Tits & Acid, a dinâmica electro de Hot Dog, os sabores house de Wooden, ou o apelo retro de I Believe para sugerir uma diversidade que na verdade é apenas maquilhagem. A seu favor contudo, a duração contida das faixas (facto que certamente decorre de uma aprendizagem feita na pop). Uma comparação rápida com outros exemplos recentes de criação musical dançável para públicos indie (e basta recordar ou LCD Soundsystem, Juan MacLean ou Hor Chip) mostra neles um sentido de versatilidade, liberdade formal e ousadia que aqui não existe da mesma forma. Em single, a coisa marcha. Mas em álbum, é relativa desilusão.
Simian Mobile Disco
“Attack Decay Sustain Release”

Wichita Recordings / Edel
2/5
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O Canadá continua em alta. E prepara-se para lançar internacionalmente mais uma banda de filhos seus. Vindos do Quebec mas, ao contrário de outros conterrâneos, fazendo questão de levar à sua música a língua que falam no dia a dia. Ou seja, o francês. Chamam-se Malajube e, depois de um promissor álbum de estreia em 2004 (Le Compte Complet), estão neste momento a internacionalizar o seu sucessor, Tompe L’Oiel, de 2006. O álbum entrou na short list do Polaris Music Prize em 2006, ganhou três Felix Awards e recebeu primeiros sinais de atenção fora do quintal ao merecer uma crítica no cada vez mais lido site da Pitchfork Media. O som dos Malajube pode evocar a noção de caos ordenado que os Arcade Fire exploraram (sobretudo no álbum de estreia). A aparente “desarrumação” dos Malajube, contudo, busca outras referências que não as da soma Pixies + Talking Heads + Bowie dos compatriotas que entretanto viraram referência global. Em Trompe L’Oeil sente-se que escutaram bandas indie rock de 90 (dos Mercury Rev aos Sparklehorse, revelando a curta faixa de abertura Jus de Canneberges uma evidente citação aos Radiohead), assim os mestres indie rock francófonos (sobretudo Louise Attaque). Ângulos sempre evidentes, arestas todas por limar, rugosidade q/b. As letras, cantadas ora gritadas, sugerem um gosto pela fantasia e pelo desafio às imagens, e a música revela uma intensidade pungente que se traduz em canções contagiantes como Montreal -40º ou Patê Filo. A noção de surpresa é talvez a característica mais estimulante de um álbum que, sem soar a algo absolutamente novo, muito menos revolucionário, não deixa de ter como preocupação constante o jogar com o ouvinte atreves de incursões pelo inesperado. Em La Russe convocam a colaboração do colectivo hip hop local Loco Locass, construindo um híbrido que revela outro dos instantes intrigantes de uma banda que usa da melhor forma um mínimo orçamento, transformado em máximas potencialidades.
Malajube
“Trompe L’Oiel”

City Slang / Edel
3/5
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Mais um tiro ao lado. E este com tão má pontaria que até dói! Editado há dois anos, o álbum de estreia dos The Bravery mostrava sinais de uma então emergente cena indie rock entusiasmada com a redescoberta de pistas new wave, aí tendo os New Order como a mais clara das suas fontes de inspiração (recorde-se An Honest Mistake e reconheça-se o pastiche que não engana, nem quer enganar). Em finais desse ano, ao vê-los estrear inconsequentes e insossos temas novos na Brixton Academy temi pelo pior. O segundo álbum agora editado, The Sun and The Moon é mais uma infeliz confirmação dessa sugestão. Se o álbum de estreia era uma espécie de atento (e relativamente satisfatório) seguidor de uma cena que tinha, nos EUA, nomes como os Interpol, The Killers e The Fain uns valentes furos acima, desta vez o desnorte é total e completo. É verdade que os The Faint desmaiaram depois de Danse Macabre. É certo que os The Killers escolheram a via errada em Sam’s Town. Assim como é seguro que nos Interpol continuaremos a reconhecer um dos raros casos de interesse renovado desta geração que se revela incapaz de sobreviver criativamente a um primeiro álbum (às vezes single). Mas o que é The Sun and The Moon? Nada! Absolutamente nada! Sem os pastiches new wave do primeiro álbum, o disco parece uma colecção de maquetes inconsequentes de uma banda que deseja encontrar quem os edite. Sorte a deles, já tinham editora! Monumental equívoco, o álbum é um monumento de vazio supostamente indie, feito de canções banais que se recusam a ficar no ouvido. Para esquecer.
The Bravery
“The Sun and The Moon”
Island / Universal
1/5
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Depois da estreia em álbum colectivo canadiano Black Mountain, em 2005, os seus diversos elementos têm-se multiplicado em diversos projectos paralelos. Agora é a vez dos Lightning Dust, dupla que congrega os esforços de Amber Webber e Joshua Wells. Distante do space rock dos Black Mountain, esta discreta aventura lateral mantém todavia aberta a sua curiosidade pelo apelo sensorial que se revelou em muita música de finais de 60 (ou seja, o grande livro do psicadelismo), assim como torna evidente uma vontade de tentar conciliar num espaço comum um sentido de recontextualização de ambientes e texturas herdadas do krautrock e de outros prazeres para teclas em cenários próximos da folk, mas sem os devaneios arty (por vezes inconsequentes) de umas CocoRosie. Introspectivo, meditativo, apenas ocasionalmente festivo, este é mais um parente evidente de uma família de muitos projectos reencontrados com verdades colhidas em memórias de 60 e 70, vincando personalidade ao sugerir caminhos textural e cenicamente próximos do que imaginaríamos num filme de David Lynch. Esta é uma música frágil, delicada, sombria, muitas vezes procurando mais a sugestão ambiental que o melodismo nítido da canção. Fantasmática, a voz de Amber paira sobre palavras que se entrelaçam com as notas de teclas (ao piano ou nos sintetizadores) que, entre texturas e linhas melódicas sugerem uma grandiosidade que, sem nunca desejar ser coisa época, consegue um encanto que intriga, depois conquista. Entre o onirismo sedutor de Listened On e a densidade dramática do pungente Castles and Caves, um álbum implosivo, melancólico, sedutor. Quem gostou do recente Back Numbers, da dupla Dean & Britta, não ficará desapontado.
Lightning Dust
“Lightning Dust”

Jagjaguwar / Sabotage
4/5
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Também esta semana:
Jorge Palma, Crowded House, Blondie (reedição), Depeche Mode (reedição), Frank Black, Clinic, Ryan Adams, Komputer, Happy Mondays, PolyPhonic Spree, Datarock, Unkle, To My Boy, Ash, Andre 3000, Sonic Youth (reedição)
Brevemente:
9 de Julho: Interpol, Philip Glass (archive edition. vol1), Buffalo Tom, Smashing Pumpkins, Leonard Cohen (reedições – lançamento local), Nick Drake (best of), Scott Matthews, Mooney Suzuki, Young Marble Giants (reedição), Recoil, Spoon, Mutantes (best of), Ian Bostridge (Haendel)
16 de Julho: O. Golijov, David Bowie (DVD), Teddy Thompson, Josh Rouse, Wonderstuff (BBC sessions), Kula Shaker (best of), Levellers (reedições)
23 de Julho: The Thrills, Garbage (best of)

Julho: Common
Agosto: Kula Shaker, Todd Rudgren, Debbie Harry, Fairport Convention, Architecture In Helsinki, Jim White
Setembro: Animal Collective, Lambchop, Mazgani, Go! Team, Múm

Estas datas podem ser alteradas pelas editoras a todo o momento