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Há episódios num registo irónico, quase burlesco, como o dos irmãos Coen, com Steve Buscemi a protagonizar uma pequena aventura mais ou menos rocambolesca. Outros, como o de Nobuhiro Suwa, fazem apelo a um lirismo próximo do fantástico. Outros ainda convocam o romantismo de Paris, como acontece na proposta insólita de Gus Van Sant (em que participa, como actriz, Marianne Faithfull). Todos partem de uma espécie de nostalgia desencantada das memórias mitológicas de Paris, ao mesmo tempo que coleccionam pequenas fatias da vida dos nossos dias.
O resultado, mesmo desequilibrado, acaba por traduzir algo de essencial: estamos perante uma antologia de contrastes que reflectem, de uma só vez, as diferenças dos olhares dos respectivos cineastas e as formas plurais da produção contemporânea. Isso mesmo se pode confirmar através dos extras (reunidos num segundo disco). De facto, os breves “making of” dos dezoito episódios como que definem uma antologia de estilos e olhares à procura de uma expressão cúmplice.
Não estamos, como é óbvio, perante a mesma lógica criativa dos tempos da Nova Vaga. Das técnicas às opções criativas, as mudanças são imensas. Em todo o caso, prevalece um sentimento muito forte: o de que o cinema se pode subtrair aos modelos mais vulgares de narrativa (que, nos nossos dias, são quase sempre de raiz televisiva) para propor novas visões daquilo que, afinal, está para além das rotinas aparentemente indiferentes de uma grande metrópole.