Num belíssimo texto de apresentação do projecto de O Desprezo, Jean-Luc Godard definia assim o tema do seu filme: "(...) são personagens que se olham e julgam, e que por sua vez são olhadas e julgadas pelo cinema, o qual é representado por Fritz Lang, interpretando o seu próprio papel, em suma, a consciência do filme, a sua honestidade." Nesta altura já tudo está decidido, uma vez que se consumou a ruptura entre o argumentista do filme-dentro-do-filme, Paul (Michel Piccoli), e a sua mulher Camille (Brigitte Bardot). Enquanto Lang, à direita do enquadramento, se prepara para rodar o plano final da sua Odisseia, com Ulisses a contemplar o imenso azul do mar, Paul estende-lhe a mão numa despedida que sela uma convivência de aprendizagem do cinema e da vida (... qual a diferença?). Entre os dois, um pouco mais ao fundo, o assistente de realização observa o labor dos técnicos — quem o interpreta é o próprio Godard, prolongando um jogo de espelhos que transforma O Desprezo num requiem sublime pela vida e pela morte do cinema. Detalhe sem importância simbólica: Lang, Piccoli e Godard todos usam chapéus de filme noir.
O DESPREZO / Le Mépris
França, 1963
Realização: Jan-Luc Godard
Produção: Georges de Beauregard, Carlo Ponti
Argumento: J.-L. G., segundo romance de Alberto Moravia
Interpretação: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Fritz Lang
O DESPREZO / Le Mépris
França, 1963
Realização: Jan-Luc Godard
Produção: Georges de Beauregard, Carlo Ponti
Argumento: J.-L. G., segundo romance de Alberto Moravia
Interpretação: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Fritz Lang