Algures no deserto do norte de África, as setas indicam um local de rodagem de Babel (2006), de Alejandro González Iñárritu — a imagem pertence a um documentário que integra o segundo disco da edição especial do filme em DVD. É um precioso documentário que, de facto, consegue fazer-nos sentir e compreender o que é o trabalho cinematográfico, muito para além dessa visão "acelerada" e grosseiramente maniqueísta que marca alguns programas televisivos de divulgação (?).
Além do mais, podemos reencontrar um filme que dá razão (e ficção) à noção de Aldeia Global, cruzando diversas histórias em cenários bem distintos e distantes — Marrocos, EUA, México, Japão —, ao mesmo tempo que gera uma teia de insólitas cumplicidades: afinal de contas, tudo se passa como se cada destino se cumprisse através de um outro, vivido num espaço alternativo, muitas vezes protagonizado por um absoluto desconhecido.
Terceiro filme resultante da parceria do argumentista Guillermo Arriaga com Iñárritu — depois de Amor Cão e 21 Gramas —, Babel é também a prova real de como, hoje em dia, algum do mais interessante cinema que se produz nasce de uma calculada miscigenação de geografias e culturas. Por exemplo, o elenco: aqui encontramos, entre outros, o americano Brad Pitt, a australiana Cate Blanchett, os mexicanos Gael García Bernal e Adriana Barraza, e a japonesa Rinko Kikuchi — gente daqui e de todo o mundo.