sexta-feira, maio 04, 2007

Teias de aranha

1. O problema não é que o filme Homem-Aranha 3 seja uma patética amostra de dinheiro deitado à rua. De facto, já há algum tempo não se ouvia falar tanto em recordes orçamentais (ao que parece, mais de 250 milhões de dólares) e se viam tão poucos resultados no ecrã — como se apenas houvesse ideias para fazer um trailer de dois minutos e meio, limitando-se a longa duração do filme (2 horas e 20 minutos) a ser uma extensão mecânica de algumas insípidas pro-messas de exuberância e espectáculo (?).
2. O problema nem sequer está nesse confronto pueril entre uma ideologia inane (os filmes inspirados em heróis da BD são "todos" magníficos) e uma ideologia ressentida (os filmes inspirados em heróis da BD são "todos" péssimos). Sabemos, além do mais, e mesmo com todas as legítimas diferenças subjectivas, desde os tempos heróicos do primeiro Superman (1978), de Richard Donner, que as relações cinema/banda desenhada são irregulares e desequilibradas, havendo de tudo, das obras-primas às mais deprimentes mediocridades.
3. O problema está no facto de lançamentos planetários deste género (74 países em apenas quatro dias) funcionarem como uma forma concreta de pressão mediática. Entendamo-nos: Homem-Aranha 3 poderia ser um filme excepcional que isso não anulava a questão. Importa, sobretudo perguntar: no espaço específico da informação (jornais, revistas e, acima de tudo, televisões) que fazemos — ou sabemos fazer — para separar as águas? De facto, uma coisa é a defesa de uma cultura popular, muitas vezes globalizada, decorrente dos tempos que vivemos. Outra, bem diferente, é a mera colagem aos mecanismos de ocupação do mercado que a poderosa indústria cinematográfica coloca em funcionamento. Questão em aberto — questão que importa pensar e repensar.