Bela imagem, não é? Nela reencontramos Julianne Moore, uma das grandes actrizes americanas contemporâneas, naquele que será, certamente um dos títulos mais desconcertantes e perturbantes desta edição de Cannes e, mais concretamente, da Quinzena dos Realizadores: Savage Grace, de Tom Kalin, recriação insólita, de insondável (melo)dramatismo, do caso verídico de Barbara Daly Baekeland, casada com um magnate da indústria dos plasticos, vivendo numa espécie de limbo incestuoso com o seu filho. E um filme que, de uma só vez, desafia categorias e nos confronta com a possibilidade de o cinema recuperar uma espécie de aura transcendental, realista pelo que nele se expõe, operática pelo artifício que se cola a todas as formas de representação.
Aliás, a tentação musical tem marcado vários títulos deste festival. Desde logo, o extraordinário Zodiac, de David Fincher, que se desenvolve como uma espécie de sinfonia interrompida, à procura dos enigmas dos seus andamentos finais (ou errando no interior da impossibilidade de haver um andamento final...). Agora, temos um novo exemplo com Les Chansons d'Amour, de Christophe Honoré, mais uma vez a trabalhar com o produtor Paulo Branco (depois do anterior Em Paris). Com um elenco que inclui Louis Garrel, Ludivine Sagnier e Chiara Mastroianni, este e um retorno paradoxal ao género musical — e paradoxal porque se pressente aqui a heranca de Jacques Demy, ao mesmo tempo que circulam os sinais (afectivos, sexuais, morais) de um tempo que é completamente presente. Será que podemos ter uma espécie de musical pós-moderno na Europa? E com uma sensibilidade visceralmente francesa?...
Atenção ainda ao espantoso documentário que é L'Avocat de la Terreur (na secção "Un Certain regard") sobre a figura polémica de Jacques Verges, advogado francês que defendeu Klaus Barbie, o nazi que entrou para a história com o cognome de "o carrasco de Lyon". Seguindo uma metodologia jornalística de investigação, o realizador Barbet Schroeder [foto] mergulha, afinal, em muitas questões da história e da política do último meio século, por um lado discutindo a formulação da verdade, por outro lado questionando a própria dimensão da consciência humana — uma lição de cinema e, inseparavelmente, um magnífico ensaio filosófico.
Aliás, a tentação musical tem marcado vários títulos deste festival. Desde logo, o extraordinário Zodiac, de David Fincher, que se desenvolve como uma espécie de sinfonia interrompida, à procura dos enigmas dos seus andamentos finais (ou errando no interior da impossibilidade de haver um andamento final...). Agora, temos um novo exemplo com Les Chansons d'Amour, de Christophe Honoré, mais uma vez a trabalhar com o produtor Paulo Branco (depois do anterior Em Paris). Com um elenco que inclui Louis Garrel, Ludivine Sagnier e Chiara Mastroianni, este e um retorno paradoxal ao género musical — e paradoxal porque se pressente aqui a heranca de Jacques Demy, ao mesmo tempo que circulam os sinais (afectivos, sexuais, morais) de um tempo que é completamente presente. Será que podemos ter uma espécie de musical pós-moderno na Europa? E com uma sensibilidade visceralmente francesa?...
Atenção ainda ao espantoso documentário que é L'Avocat de la Terreur (na secção "Un Certain regard") sobre a figura polémica de Jacques Verges, advogado francês que defendeu Klaus Barbie, o nazi que entrou para a história com o cognome de "o carrasco de Lyon". Seguindo uma metodologia jornalística de investigação, o realizador Barbet Schroeder [foto] mergulha, afinal, em muitas questões da história e da política do último meio século, por um lado discutindo a formulação da verdade, por outro lado questionando a própria dimensão da consciência humana — uma lição de cinema e, inseparavelmente, um magnífico ensaio filosófico.