Não tem nada de acidental, muito menos de decorativo, que as novas tecnologias voltem a estar na ordem do dia em Cannes (a organização anuncia mesmo uma série de projecções digitais, incluindo a do filme de David Fincher, o fabuloso Zodiac). As inovações que continuam a aparecer não estão apenas a oferecer aos criadores cinematográficos novas formas de pensar e executar os seus projectos; ao mesmo tempo, por elas passa toda uma nova economia do cinema. Justamente para avaliar o estado das coisas, o certame promoveu um debate a que, de modo muito sintomático, deu o titulo de "Cinema: em direcção ao público do futuro".
De alguma maneira, o filme de abertura da competição — My Blueberry Nights, de Wong Kar Wai — resumiu as potencialidades, e também os equívocos, desta conjuntura criativa. Em termos simples, trata-se um on the road mais ou menos romântico, obviamente devedor de experiências anteriores do proprio Wong Kar Wai (com piscadelas de olho ao Wim Wenders de Paris, Texas). Esse é o lado "velho" do filme. O lado "novo" resulta da sua pluralidade formal: My Blueberry Nights oscila entre a nostalgia melodramática e o videoclip, vai do intimismo "literário" ao look publicitário. Os resultados, ao mesmo tempo vistosos e frustrantes, parecem responder a uma das questões actuais sobre o futuro da difusão cinematográfica: que suportes — ou, como passou a dizer-se, que plataformas — os consumidores vão preferir? Dir-se-ia que, na sua ligeireza de cores esfuziantes, este é também um filme que, para o melhor ou para o pior, podemos imaginar no ecrã tradicional e no computador, na consola de jogos ou no... telemóvel!
Novidade mesmo é a estreia de Norah Jones como actriz. Sem ser brilhante, ela revela uma segurança óbvia, mesmo se nunca consegue superar um registo algo retórico que, aliás, contamina todos os elementos do elenco, incluindo Jude Law e Natalie Portman. David Strathairn é o mais sóbrio.
De alguma maneira, o filme de abertura da competição — My Blueberry Nights, de Wong Kar Wai — resumiu as potencialidades, e também os equívocos, desta conjuntura criativa. Em termos simples, trata-se um on the road mais ou menos romântico, obviamente devedor de experiências anteriores do proprio Wong Kar Wai (com piscadelas de olho ao Wim Wenders de Paris, Texas). Esse é o lado "velho" do filme. O lado "novo" resulta da sua pluralidade formal: My Blueberry Nights oscila entre a nostalgia melodramática e o videoclip, vai do intimismo "literário" ao look publicitário. Os resultados, ao mesmo tempo vistosos e frustrantes, parecem responder a uma das questões actuais sobre o futuro da difusão cinematográfica: que suportes — ou, como passou a dizer-se, que plataformas — os consumidores vão preferir? Dir-se-ia que, na sua ligeireza de cores esfuziantes, este é também um filme que, para o melhor ou para o pior, podemos imaginar no ecrã tradicional e no computador, na consola de jogos ou no... telemóvel!
Novidade mesmo é a estreia de Norah Jones como actriz. Sem ser brilhante, ela revela uma segurança óbvia, mesmo se nunca consegue superar um registo algo retórico que, aliás, contamina todos os elementos do elenco, incluindo Jude Law e Natalie Portman. David Strathairn é o mais sóbrio.