She's Madonna

Uma das pragas que mais efeitos negativos tem provocado no jornalismo contemporâneo — minando a sua credibilidade e falseando os seus propósitos — é a imprensa "cor-de-rosa" (ou de qualquer outra cor) que se limita a explorar as vidas privadas das estrelas, quase sempre num misto de hipocrisia moral e inanidade mental.

Por exemplo, fixemo-nos nesta espantosa e acutilante imagem — que nos diz? Apenas isto: que, algures, alguém famoso vai a passar na rua, a falar ao telemóvel. Em boa verdade, não acontece nada que esteja para além da banalidade mais anónima. Não há nada de informativamente pertinente, a não ser o facto de haver uma pequena multidão de... fotógrafos: os fotógrafos não fotogram o acontecimento porque, muito estupidamente, são eles que o provocam.
Entendamo-nos: as estrelas constituem um assunto sempre interessante e sedutor (aliás, suscitando uma pessoalíssima dimensão do olhar: foi a lógica desse interesse e a persistência dessa sedução que me conduziram a esta imagem). Não se trata de, unilateralmente, estabelecer "limites" ao exercício do jornalismo, até porque uma estrela é também alguém que, por princípio, sabe que pode ser fotografada. Trata-se, isso sim, de não escamotear a impostura ontológica que esse mesmo jornalismo pode favorecer, a ponto de transformar um não-acontecimento público num facto carregado de (suposta) ressonância colectiva.
Neste caso, convém acrescentar, deparamos com uma cidadã a sair do ginásio que habitualmente frequenta, em Londres. Foi no dia 27 de Março — ela é Madonna e a fotografia está no site All about Madonna.