O que conta é o dia seguinte. Como quando, depois de sonhos ou pesadelos, acordamos ao lado de alguém. E, no dia seguinte, as comemorações do 25 de Abril soam a falso. E não apenas as que se repetem na esfera oficial (e sobre as quais, sintomaticamente, o próprio Presidente da República exprimiu sensatas dúvidas: "O 25 de Abril de 1974 representou, antes de mais, um gesto de inconformismo e de não resignação. A pior maneira de o celebrar será aceitarmos, acomodados, que a erosão do tempo transforme o 25 de Abril numa simples efeméride, num dia feriado que, ano após ano, os Portugueses gozam com a indiferença dos velhos hábitos."). Também no espaço cultural e, muito em particular, nos ecrãs de televisão, as celebrações piedosas e paternalistas só podem produzir um ainda maior desgaste simbólico e favorecer uma crescente indiferença. Exemplo? Porque é que, desde que José Afonso morreu, a RTP insiste, em dias festivos (?), em promover avalanchas de "Zeca Afonso"? O que conta é o dia seguinte. O que conta é que, hoje, a RTP regressa ao bocejo populista de Um Contra Todos, logo seguido de mais uma telenovela "séria" como Paixões Proibidas. A propósito: que tem a classe política a dizer sobre tudo isto? Nada, como sempre. Foi para isto que se fez o 25 de Abril?