segunda-feira, abril 23, 2007

Discos da semana, 23 de Abril

Alguns discos que hoje chegam aos escaparates, num breve olhar crítico.

Au Revoir Simone? Não se tem ouvido falar de outro nome. Entre bloggers, são três "velhas amigas" de Brooklyn, com álbum de estreia, auto-editado em 2005 e entusiasticamente elogiado. E entre os fãs, David Lynch, assim como a equipa de produção da série Anatomia de Grey, que logo pediu três canções do álbum de estreia para usar nos seus episódios. Com nome tirado de uma personagem secundária de Pee-Wee's Big Adventure, de Tim Burton, Erika Forster, Annie Haet e Heather D'Angelo, cada qual armada até aos dentes com nada mais que teclados (de preferência baratos), juntaram-se em 2003. E aos quatro anos de vida, e com um segundo e magnífico álbum entre mãos, ameaçam vir a ser um dos "casos" do ano. Descendentes (bem) evidentes da escola Young Marble Giants, aparentadas com os Múm, Broadcast ou mesmo Stereolab, praticam uma pop electrónica feita pastiches gourmet bem recolhidos, de sonhos e sorrisos, discreta e luminosa, doce mas misteriosa. As suas canções são leves como nuvens. Macias como um colchão de algodão. No limbo entre o sono e o despertar. Simples, longe de visionárias, mas arrebatadoramente belas, como um jardim secreto que se descobre a cada audição. As melodias crescem entre teclas e vozes sussurradas. Ao seu redor evoluem filigranas digitais de espantosa fragilidade. Contudo, no seu conjunto, estas canções fazem de The Bird of Music um dos mais viciantes discos pop que 2007 já escutou.
Au Revoir Simone “The Bird Of Music” Moshi Moshi/Edel
Para ouvir: MySpace

Já vão no seu terceiro álbum, mas por muitos ainda são quase ilustres desconhecidos. Na verdade, nem deveríamos usar o plural para falar de uma banda que o não é. Porque Papercuts, na verdade, não é mais que uma aventura de um homem só, Jason Robert Quever de seu nome, parceiro de músicos e bandas como, entre outros, os Casiotone For The Painfully Alone, Vetiver ou Cass McCombs. Nómada com vida pelas estradas e músicas da América profunda, encontrou porto seguro em São Francisco. E, aí, uma música que cruza essa noção de América vivida com a essência de diversas (e bem interessantes) escolas indie pop. Papercut é, portanto, o resultado de uma pausa urbana numa vida de great outdoors... Can’t Go Back, sucessor dos mais discretos Rejoicing Songs e Mockingbird é um evidente passaporte para outro reconhecimento e estatuto para Jason Robert Quaver. As raízes mais evidentes da memória americana (Dylan, Byrds, Buffalo Springfield) são ora o tutano de memórias reinventadas, ora a raiz de uma ideia qual emerge um híbrido que traduz cenas de uma biografia em construção. A actual residência californiana justifica a luz e vida de uma música que, nos confins de cada palavra ou melodia não esquece, contudo, episódios de melancolia e solidão vividos estrada fora. Nem rock nem folk, nem pop nem indie, mas também tudo isto ao mesmo tempo, Can’t Go Back é um pequeno mundo de histórias e vivências em formato de canção. Um álbum que tem em Dear Employee uma das melhores aberturas de alinhamento dos últimos tempos. Uma abertura que seduz. E que tem nos restantes nove temas motivos mais para manter o ouvinte atento... E seduzido.
Papercuts “Can’t Go Back” Sabotage
Para ouvir: MySpace

Com raizes pessoais na cultura punk rock da Alemanha de Leste (sim, clandestina, mas existia!), os Tarwater são um duo constituído por Bernd Jestram e Ronald Lippock (este último uma das forças criativas dos To Rococo Rot). A sua carreira, com discografia que remonta a 1996, nasceu numa sequência sde álbuns essencialmente instrumentais, aos quais muitos associaram a etiqueta pós-rock. Etiqueta que por nada se pode aplicar ao novo álbum, um dos mais entusiasmantes dos seus discos. Mais que nunca (e seguindo pistas já sugeridas pelo anterior The Needle Was Traveling, de 2005), a canção parece ser a meta de um duo que nela encontrou nova terra firme. Canções que, como os seus instrumentais (e aqui ainda encontramos alguns), nascem de estímulos sugeridos pelos sons criados em estúdio, e depois crescem em busca de ideias ou palavras que provoquem eventuais mecanismos de identificação de quem ouve junto de quem cria. Não é uma obra-prima, mas uma sólida conquista evolutiva.
Tarwater “Spider Smile” Morr Music/Flur
Para ouvir: MySpace

Michael Cashmore, um dos mais antigos e regulares parceiros de David Tibet nos Current 93, e velho colaborador de figuras como Nick Cave ou Björk, estreou-se oficialmente a solo com um álbum em 2006. Meses depois, eis um novo disco que, todavia, não podemos encarar como um sucessor dessa estreia em Sleep England. The Snow Abides (formalmente um EP) não é mais que uma recolha de gravações com cerca de sete anos de existência, até aqui escondidas em arquivo privado. Na verdade, devemos ao sucesso recente de Antony Hegarty (Antony and The Johnsons) a visibilidade destas gravações. A sua voz surge em alguns dos temas aqui reunidos e, claro, serve de valor acrescentado para as potencialidades de mercado de um disco feito de delicadas melodias e plácidas cenografias. Piano, cordas, flautas, desenham quadros de travo melancólico nos quais a voz de Antony assenta que nem uma luva, pontualmente cedendo espaço a instrumentais de contido sinfonismo. Como a capa do disco sugere, estas são músicas e canções de tempo frio, trovas de invernia que o calor de uma voz rara aquece e torna confotáveis.
Michael Cashmore “The Snow Abides” Dutro / Sabotage
Para ouvir: MySpace

Não tem sido entusiasmante o panorama editorial português. E a cada excepção à norma, faz-se a festa. E, convenhamos, sabe bem fazer a festa ao som do novo álbum dos Micro Audio Waves. Odd Size Baggage não só é o melhor dos discos deste colectivo, como representa uma das mais interessantes e oportunas aventuras com electrónicas que a música portuguesa viveu nos últimos anos. Depois de arrumadas experiências e ensaios em dois primeiros discos onde tactearam terreno (mostrando já evidentes sinais de ousadia e ambição), chegam ao terceiro álbum com as ferramentas afinadas e uma linguagem pessoal bem definida. Tomaram a canção como meta. E acertaram! Sem se repetir, conseguindo o alinhamento do álbum uma versatilidade pop admirável, Odd Size Baggage cruza referências e estéticas, tempos e formas, sugerindo um paraíso digital que sabe bem descobrir aos poucos. As canções mostram sinais de contemporaneidade, luminosidade cativante e uma voz que sabe como encantar. Afinal, a pop electrónica também acontece por aqui! Escute Shadow of Things ou o tema-título do álbum quem ainda tiver dúvidas.
Micro Audio Waves “Odd Size Baggage” Magic Music
Para ouvir: MySpace

Também esta semana: Arctic Monkeys, Mick Harvey, Feist

Brevemente:
30 de Abril: Pantha du Prince, Blonde Redhead, Bob Dylan (DVD), Tori Amos, Manic Street Preachers, Squeeze (best of), Tributo a Joni Mitchell
7 de Maio: The Knife (edição Deluxe), Simian Mobile Disco, Björk, Groove Armada, Cinematic Orchestra, Elliott Smith, Black Devil Disco Club
14 de Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Wilco, Larrikin Love

Maio: Spiritualized, Four Tet, Gary Numan (BBC Sessions), Larrikin Love, Black Rebel Motorcycle Club, The Bravery, Marilyn Manson
Junho: Bonde do Role, Bryan Ferry (DVD)


Estas datas podem ser alteradas a todo o momento