segunda-feira, abril 02, 2007

Discos da Semana, 2 de Abril

Peter Von Poehl “Going To Where The Tea Trees Are”
Peter Von Pohl é um sueco (mas filho de mãe alemã), hoje com 33 anos, com carreira musical já antiga e até aqui essencialmente invisível. Em 1998 mudou-se para França, onde rapidamente ganhou a amizade (e emprego) junto a Bertrand Burgalat e sua editora, tendo então trabalhado numa série de discos, entre os quais o álbum Présence Humanie (2000) de Michel Houellebecq, e participado numa série de digressões de cantores e cantoras franceses. Há dois anos, o guitarrista ao serviço de terceiros resolveu dar, novamente, voz a si mesmo. Num estúdio barato gravou dois temas, editando-os num single. Sim, à antiga, em vinil, a 45 rotações... Chamava-se Going To Where The Tea Trees Are e rapidamente começou a desencadear entusiasmos como o próprio nunca esperara. Uma rádio de Paris começou a tocá-lo. Sem saber como, a segunda resposta chegou de uma estação em Los Angeles... E os blogues fizeram o resto. A canção acabaria por ser ponto de partida para a construção (e posterior gravação) de um álbum de estreia que começou por ser editado na Suécia e em Paris, em Maio do ano passado, com direito a destaque como disco do mês na ilustre revista Magic! O disco que, agora, começa a chegar a toda a Europa, confirma as frestas de atenção que canções apresentadas online e telediscos no YouTube lançaram nos últimos meses. E revela um cantautor que tem aqui todos os argumentos para ganhar um lugar de destaque entre uma nova geração pop folk de origem sueca que, nos últimos tempos, nos revelou nomes como os Acid House Kings, Peter Björn & John ou The Concretes. Gravado entre um estúdio rural na Suécia e o apartamento do músico, em Berlim, Going To Where The Tea Trees Are é um versátil cartão de visita, onde Peter Von Poehl revela evidente talento na composição, rara visão elaborada em arranjos que nunca afogam as canções e uma voz que, em jeito de acabamento, assegura que a procura desejada de uma noção de belo seja consumada. Mais próximo da genealogia de um Donovan que de Nick Drake, a música de Peter Von Poehl convida à descoberta a cada faixa, num disco onde a noção de monotonia não mora nunca.

Rickie Lee Jones “The Sermon On Exposition Boulevard”
O mais entusiasmante album de Rickie Lee Jones em muitos anos nasceu de forma atípica, quando Lee Cantelton desafiou várias vozes (entre as quais a da cantora) a colaborar num projecto spoken word centrado em leituras do seu livro The Words, no qual estão recolhidas as palavras de Jesus, como eventualmente as terá proferido. Falar? Porque não cantar? Desta simples dúvida nasceu uma mudança de rumo e o big bang do qual brotou o conceito pelo qual foram surgindo as canções do álbum que agora chega aos escaparates. A intensidade emotiva que o domina, espelhando as canções as marcas profundamente pessoais na abordagem vulnerável da voz a palavras cujos sentidos despertam um sentido de religiosidade não necessariamente evangelizador, antes procurando íntimas verdades profundas, faz deste disco um raro episódio de expressão de relação do eu com a transcendência, sem os rumos nem fronteiras muitas vezes decretados pelas leis que regem a fé. A fragilidade de uma voz que conhece aqui incrível liberdade de expressão acima dos géneros, ganha sobretudo nos momentos em que assenta sobre cenários instrumentais crus e intensos que tanto partilham referências folk como, sobretudo, rock. E se há luz divina sobre esta música, ela veio directamente da Bíblia Velvet Underground. Escute-se o espantoso Nobody Knows My Name para constatar essa outra fé aqui também evidente.

Maximo Park “Our Earthly Pleasures”
Foram dos mais diecretos da “primeira” fornada brit-novo-rock-pós-Franz Ferdinand... Credo! Mas no seu álbum de estreia revelavam, mesmo sem a garra ou a capacidade de mediatização de alguns dos seus companheiros de “fornada”, evidente capacidade de construir canções, procurando a sua arte final um ponto de entendimento entre a rudeza herdada do punk e um gosto pelas formas mais polidas da new wave (as escolas Stranglers de primeira etapa, The Jam e Wire, assim como uma certa vontade de piscar o olho aos Pulp, bem evidentes entre as referências estruturais). Ao segundo álbum, e perante a secundarização de A Certain Trigger face às contemporâneas estreias de uns Kaiser Chiefs, Bloc Party ou Futureheads, os Máximo Park parecem ser dos que menos desencantam. Pelo contrário, e mesmo sem os elevar a um patamar que nos faça acreditar que aqui há vida para lá de uma capacidade em cumprir, em palco, as promessas em disco, este é um disco onde se aposta na exploração das sugestões pop já indiciadas no álbum de estreia, nelas encontrando ganchos que sustentam um corpo de canções que, sem ser memorável, é pelo menos agradável. Excepção, claro, para o poderoso Our Velocity, single que em si tem todos os ingredientes que fazem os hinos da saison... Esse, sim, viciante, sem dúvida.

The Rakes “Ten New New Messages”
O album de estreia dos The Rakes Capture/Release foi dos mais interessantes da geração pós-Libertines, juntando uma a pulsão pop de maquilhagem punk (escola Clash) um sentido de realismo de rua a lembrar as visões e imagens de Mike Skinner nos The Streets... Ao segundo álbum, contudo, a ambição formal quase deita por terra os esforços. As canções estão bem estruturadas, mais bem gravadas, mais cheias de som e orquestrações, mais polidas, mas a garra com que a banda as encarava, nelas encontrando retratos vivos e actuais da actual cultura jovem inglesa, foi pela água abaixo. Foi-se o punk, ficou uma pop dominada por guitarras e ocasionais teclas, sóbria e interessante, mas longe de arrebatadora. Não é o tiro ao lado dos Bloc Party ou Kaiser Chiefs, mas é mais um sinal “menos” ao segundo álbum... Será epidemia?

Trans AM “Sex Change”
Apesar das eventuais sugestões que o título possa traduzir, Sex Change está longe de mostrar uns Trans AM com problemas de género. Mesmo assim, o álbum revela a mais liberta e aventureira das suas operações mais recentes, mantendo firme uma arquitectura essencialmente baseada em estruturas electrónicas, abrindo espaço a ensaios e experiências, pop, funk, electro, heavy rock ou afro, com a habitual dose de humor (genial na citação das “oblique strategies” de Brian Eno em Obscene Strategies) como denominador comum. Longe das conotações políticas do anterior Liberation, eis um depoimento eminentemente estético que quase podemos saborear como um exercício de síntese de uma obra que aqui conhece uma das suas mais sólidas manifestações.

Também esta semana: Bobby Conn, Amon Tobin, Brett Anderson, Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Norton, Bananarama (reedições), OneTwo, Laura Veirs, Teresa Salgueiro, Doors (reedições), Wedding Present (BBC Sessions), Vários (Mute Archive 1), Yardbirds (best of), The Bees, Jean Michel Jarre, Da Weasel

Brevemente:
9 de Abril: Kings Of Leon, Waterboys, Modest Mouse, Prefab Sprout (reedição), Low, Herbert, DJ Vadim, Bright Eyes, Cowboy Junkies, CocoRosie, Young Gods, BC Camplight
16 de Abril: Nine Inch Nails, Patti Smith, Ben Folds (DVD)
23 de Abril: Arctic Monkeys, King Britt (mix), Tributo a Joni Mitchell

Abril: Spiritualized, Nine Inch Nails, The Knife (DVD), Maria João, Blonde Redhead, Bob Dylan (DVD), Tori Amos, Manic Street Preachers, Squeeze (best of)
Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Tori Amos, Björk

Estas datas podem ser alteradas a todo o momento