domingo, abril 08, 2007

As preces do alien

Ano Bowie - 42
'Loving The Alien' - Single, 1985



O terceiro single extraído do álbum Tonight representa, ao lado de Blue Jean, dois claros exemplos de como, em tempo de agenda estética feita de excessos na produção, quase se abafam as intenções da composição. Mesmo assim, este representa um dos raros momentos memoráveis nesse álbum menor de 1984, tendo a versão que acompanhou a edição melhorado a canção face à sua mistura original. De tom grandioso, quase sinfónico, o tema é por muitos tido como um piscar de olho a heranças temáticas de ficção científica da "era" Ziggy Stardust. Na verdade, esta é das canções de objectivos líricos mais evidentes entre as que Bowie registou na década de 80, falando sobretudo da necessidade do homem encontrar um sentido ecuménico tolerante, criticando abertamente certas manifestações de religiosidade "organizada" e os dogmas e medos que lhes são associados. Um entendimento entre o mundo cristão e o Islão parece subtexto evidente numa canção que parecia indiciar o casamento com a muçulmana Iman, alguns anos depois. Ao que parece, a escolha de Loving The Alien para suceder a Blue Jean e Tonight deveu-se a uma crítica ao álbum, que apontava este como um potencial single de sucesso a dele extraír... A sugestão valeu-lhe um 19º lugar no Reino Unido, um resultado bem mais expressivo que o discreto número 53 atingido meses antes, com o dueto com Tina Turner em Tonight.

'Loving The Alien'
Lado A: Loving The Alien (re-mixed version)
Lado B: Don't Look Down (re-mixed version)
Produção: David Bowie / Derek Bramble / Hugh Paghdam



O teledisco que acompanha Loving The Alien é um dos melhores da colheita de meados de 80 de David Bowie. Cruza uma série de imagens que aludem ao debate que a letra lança (a visão da mulher de burka fez história) e apresenta Bowie, e banda, a interpretar o tema num palco que cruza as linhas de estruturas de um Georgio de Chirico com a noção de tridimensionalidade não realista de Escher. O rosto azul, que vemos também na foto da capa do single, não só estabelece ligações à capa de Tonight, como sugere um ser que, nem preto nem branco, é expressão de um outro sentido de liberdade (falando-se aqui, uma vez mais, de uma existência possível além dos ditados de qualquer religião).