'Ziggy Stardust and the Spiders from Mars' (1973), de D. A. Pennebaker
O olho com a pupila dilatada é o esquerdo. Aqui, parece o direito, já que D. A. Pennebaker o está a filmar num espelho. Desfocada, a desaparecer do lado direito da imagem, surge a maquilhadora: o rosto de Bowie recebe os derradeiros retoques antes da entrada em palco — estava-se a 3 de Julho de 1973 e o concerto do Hammersmith Odeon seria o último do alter-ego de Bowie, Ziggy Stardust, uma espécie de alien demasiado humano. Grande documentarista americano, D. A. Pennebaker tinha já assinado um outro título lendário da relação cinema/música: Don't Look Back (1967), sobre a tournée inglesa de Bob Dylan, em 1965 (em Portugal lançado como Eu Sou Bob Dylan). Com meios de rodagem ligeiros, na altura verdadeiramente revolucionários (ainda que distantes do aparato tecnológico hoje em dia mobilizado para muitos concertos), Ziggy Stardust and the Spiders from Mars possui a aura de um objecto lendário: uma espécie de ritual de um criador que expõe os derradeiros artifícios de uma das suas máscaras. No final, perante uma audiência atónita, Bowie proclamou: "Este não é apenas o último espectáculo da digressão, mas também o último que faremos." Era tempo de gritar: Ziggy morreu! Viva Bowie!