Do ponto de vista psicológico, esta é, muito provavelmente, a personagem mais complexa que Bowie já interpretou em cinema. Em 1942, num campo japonês para prisioneiros britânicos, o major Jack Celliers (Bowie) e o coronel John Lawrence (Tom Conti) vivem uma odisseia de trágica ironia: por um lado, há uma base difusa de humanismo que parece criar uma ligação possível entre os que estão presos e os que detêm o poder sobre a sua própria vida; por outro lado, as relações que se estabelecem diluem todas as utopias num emaranhado de violência e equívocos. No pólo oposto aos britânicos surge a fascinante personagem de Yonoi, o capitão japonês através de quem se instala uma ambivalência sexual que vai acrescentar ainda mais crueldade às ilusões redentoras quer perpassam pelos acontecimentos — Ryuichi Sakamato (também compositor da belíssima música do filme) era o magnífico intérprete de Yonoi.
O realizador Nagisa Oshima assinara antes O Império dos Sentidos (1976) e O Império da Paixão (1973), o primeiro dos quais lhe tinha trazido uma ressonância comercial que superava, e muito, a sua condição anterior de símbolo da "nova vaga" nipónica. Na altura, houve quem não deixasse de propalar a tradicional condenação: Oshima estaria a "vender-se" ao mercado anglo-saxónico. Como se o cinema fosse alheio às mais diversas formas de aliança artística e/ou económica... Seja como for, Feliz Natal, Mr. Lawrence tornou-se um objecto de culto.
sábado, março 31, 2007
Sob o signo de Oshima
Ano Bowie - 39
'Merry Christmas, Mr. Lawrence' (1983), de Nagisa Oshima