Grande Auditório da Fun-dação Gulbenkian, 4 de Março, 19h00 >>> Radu Lupu, consagrado pianista romeno, senta-se não no tradicional banco, mas numa cadeira austera, impondo a si próprio uma postura sem "espec-táculo", por assim dizer, neutra. De facto, ele percorre o teclado, mesmo nos momentos de maior vibração, como se o corpo estivesse imbuído de uma pose fria, face ao piano, deixando que as mãos executem um trabalho de surpreendente revelação.
E talvez faça sentido reforçar esta palavra: revelação. Algo nele procura, não a exibição de um qualquer virtuosismo face à complexidade das obras executadas, mas sim o consumar de um exercício de amostragem (um revelador, justamente) que nos possa conduzir a um lugar utópico: os próprios sentimentos do compositor na altura de gerar a sua música.
Começou assim com Schubert (Sonata para Piano em Lá, D. 664), expondo um romantismo contido, paradoxalmente em convulsão, mas resguardado dos seus fantasmas. Seguiu-se Debussy (uma selecção dos Prelúdios) e Brahms (Baladas, op. 10), cada um deles remetendo-nos para o turbilhão da música que o século XIX preparou para o nosso, afinal já extinto, século XX. Fez sentido, por isso, que o alinhamento desembocasse numa espécie de pretérito mais que perfeito, com Beethoven (Sonata para Piano nº 18, em Mi bemol maior, op. 31 nº 3) — dir-se-ia que, no silêncio interior da sua música, Ludwig van desenhou todos os mapas que os seus muitos herdeiros contemplaram e souberam enriquecer.
Em resumo: um belíssimo concerto, a deixar (mais) uma marca fortíssima na temporada 2006/2007 da Gulbenkian. E, neste caso, com textos do programa (assinados por Rui Cabral Lopes) a cumprir uma louvável missão pedagógica: não se limitando a longos e assépticos inventários técnicos sobre as obras, antes sublinhando a importância dos contextos e não temendo reconhecer que falar de música é também percorrer emoções.
E talvez faça sentido reforçar esta palavra: revelação. Algo nele procura, não a exibição de um qualquer virtuosismo face à complexidade das obras executadas, mas sim o consumar de um exercício de amostragem (um revelador, justamente) que nos possa conduzir a um lugar utópico: os próprios sentimentos do compositor na altura de gerar a sua música.
Começou assim com Schubert (Sonata para Piano em Lá, D. 664), expondo um romantismo contido, paradoxalmente em convulsão, mas resguardado dos seus fantasmas. Seguiu-se Debussy (uma selecção dos Prelúdios) e Brahms (Baladas, op. 10), cada um deles remetendo-nos para o turbilhão da música que o século XIX preparou para o nosso, afinal já extinto, século XX. Fez sentido, por isso, que o alinhamento desembocasse numa espécie de pretérito mais que perfeito, com Beethoven (Sonata para Piano nº 18, em Mi bemol maior, op. 31 nº 3) — dir-se-ia que, no silêncio interior da sua música, Ludwig van desenhou todos os mapas que os seus muitos herdeiros contemplaram e souberam enriquecer.
Em resumo: um belíssimo concerto, a deixar (mais) uma marca fortíssima na temporada 2006/2007 da Gulbenkian. E, neste caso, com textos do programa (assinados por Rui Cabral Lopes) a cumprir uma louvável missão pedagógica: não se limitando a longos e assépticos inventários técnicos sobre as obras, antes sublinhando a importância dos contextos e não temendo reconhecer que falar de música é também percorrer emoções.