Falecido no dia 6, Jean Baudrillard é o homem que disse: "A cobardia intelctual tornou-se a verdadeira disciplina olímpica do nosso tempo." Ele é o pensador da hiper-realidade e de todos os simulacros, nessa medida arqueólogo de um mundo em que nenhum real nos garante um lugar de quietude e certeza — um mundo, afinal, em que os déspotas nos querem vender a "sua" realidade como uma evidência universal, gerada para nossa benigna satisfação. São dele estas palavras:
"Somos todos reféns, somos todos terroristas. Este circuito substituíu o outro, o dos senhores e escravos, o dos dominantes e dominados, o dos exploradores e explorados. Acabada a constelação do escravo e do proletário, existe agora a constelação do refém e do terrorista. Acabada a constelação da alienação, existe agora a do terror. É pior que a outra, mas ao menos liberta-nos das nostalgias liberais e dos estratagemas da história. Começou a era do transpolítico.
E não é apenas na esfera 'política', é por todo o lado que entrámos na constelação da chantagem. Por todo o lado esta desmultiplicação insensata da responsabilidade funciona como dissuasão.
Somos reféns até da nossa própria identidade: convocados a assumi-la, convocados a responder por ela apostando a nossa própria cabeça (chama-se a isso a segurança, eventualmente social) — convocados a sermos nós próprios, a falar, a fruir, a realizarmo-nos — sob pena de... sob pena de quê?"
"Somos todos reféns, somos todos terroristas. Este circuito substituíu o outro, o dos senhores e escravos, o dos dominantes e dominados, o dos exploradores e explorados. Acabada a constelação do escravo e do proletário, existe agora a constelação do refém e do terrorista. Acabada a constelação da alienação, existe agora a do terror. É pior que a outra, mas ao menos liberta-nos das nostalgias liberais e dos estratagemas da história. Começou a era do transpolítico.
E não é apenas na esfera 'política', é por todo o lado que entrámos na constelação da chantagem. Por todo o lado esta desmultiplicação insensata da responsabilidade funciona como dissuasão.
Somos reféns até da nossa própria identidade: convocados a assumi-la, convocados a responder por ela apostando a nossa própria cabeça (chama-se a isso a segurança, eventualmente social) — convocados a sermos nós próprios, a falar, a fruir, a realizarmo-nos — sob pena de... sob pena de quê?"
in Les Stratégies Fatales
(Grasset, 1983)
* Notícia da morte no Le Monde.
* Declarações de Paul Virilio ao Le Monde: 'Ele entrevia a derrota dos factos'.
* Notícia da morte no New York Times.
* Texto de J.B. republicado no Le Monde: 'O espírito do terrorismo'.
* Tradução inglesa do texto 'La Violence du Mondial' (original de 2002), sobre a globalização no pós-11 de Setembro.