domingo, março 11, 2007

Há vida em Marte

Ano Bowie - 35
'Life On Mars' - Single, 1973


Uma das mais evidentes obras-primas de Bowie foi rosto da mudança que se desenhava no álbum de 1971 Hunky Dory mas, curiosamente, apenas editada em single dois anos depois, em pleno auge da "Ziggymania", em Junho de 1973. Exemplo evidente de um sentido de composição apurado, sobre o qual Mick Ronson criou um arranjo épico que lhe conferiu a majestade quase operática que caracteriza a canção, Life On Mars é um bom exemplo da lógica não narrativa (nem de evidência interpretativa) na escrita de David Bowie. Em 1971, o próprio limitou-se a afirmar que a canção falava da reacção de uma rapariga sensível aos media... E pouco, na verdade, acrescentou a esta lacónica declaração, salvo em 1996, quando revelou que a rapariga de que falava revelava sinais de desilusão perante a realidade... Todavia, entre "bowieófilos" corre uma tese (não unânime) que faz da "girl with the mousy hair" da canção uma personagem inspirada na antiga namorada de Bowie, Hermione Farthingale, e da eventual narrativa contada um retrato da sua separação. Todavia, a colagem de símbolos citados na letra (Lennon, o raro Mickey, Ibiza, 'Rule Britania') aponta mais no sentido de uma expressão eminente plástica, subjectiva, de uma ideia, que propriamente cenários e pistas para uma história. Life On Mars é uma das mais perenes composições de Bowie e tem ocupado lugar em alinhamentos de várias digressões e compilações desde então. Em 1973 foi editada em single, tendo atingido o terceiro lugar no Reino Unido

Life On Mars (RCA, 1973)
Lado A: Life On Mars
Lado B: The Man Who Sold The World
Produção: Ken Scott (A) / Tony Visconti (B)



O teledisco de Life On Mars, realizado por Mick Rock, foi rodado num estúdio em Londres em Maio de 1973. Bowie vestia um falo azul turquesa de Freddie Buretti e a sua face ostentava maquilhagem num jeito menos agressivo, mas não menos discreto, que a que então levava a palco. A fotografia abriu luz ao limite de "queimar" a imagem, conferindo ao pequeno filme e à sua ostensiva lógica de cor, catacterísticas pop art invulgares.