Contada em cena, a explicação pode parecer coisa de bom argumentista. Perante um London Palladium completamente esgotado para ver a recriação de um histórico concerto de Judy Garland no Carnegie Hall em 1961 (que Rufus Wainwright levou a cena, na mesma sala nova-iorquina, por duas noites, no Verão de 2006), o cantor explicava que, na verdade, tem muitas afinidades com a mulher que ali homenageava. Segundo nos contou, a primeira namorada do seu pai, Loudon, terá sido Liza Minnelli (uma das filhas de Judy Garland). Conheceram-se quando a familia Wainwright temporariamente morou em Beverly Hills, o jovem Loudon sendo então visita regular da casa de Judy Garland... Foi namorico de pouco tempo, com fim ditado por nova mudança. Ainda houve uma carta de Loudon a Liza, perguntando-lhe se ela gostava desse novo cantor... o Elvis... Sem resposta, a história ficou por ali... Todavia, há uma razão recente, mais racional e menos de conto de fadas, a justificar o concerto que Rufus Wainwright criou em volta dessa memória histórica de Judy Garland. Pouco tempo depois do 11 de Setembro, com vida pessoal tão magoada como a cidade onde já vivia, encontrou, em CD, a gravacao dessa noite com Judy Garland no Carnegie Hall, em 1961. Comprou o disco, escutou-o vezes sem conta. E deu por si a cantar todas as canções... Cinco anos depois, com artwork replicando em tudo esse mesmo concerto, Rufus subia ao mesmo palco para, canção a canção, recriar aquele momento. Críticas favoraveis, sala esgotada por duas noites. E, agora, duas datas em Londres (no Palladium, onde a própria Judy Garland em tempos actuou) e uma em Paris, no mítico Olympia... Para o fim do ano, a edição (ao que parece apenas em DVD) desta aventura que, na verdade, em nada interfere musicalmente com o curso natural da obra do cantor canadiano.
O alinhamento de 1961 foi seguido a rigor, acompanhado por orquestra de 40 elementos em palco, maestro sempre atento aos imprevistos de um Rufus que assumiu esta revisitação com segura pose informal. Interrompeu o alinhamento tantas vezes quantas Judy o fez, para contar histórias, naturalmente com o já tradicional filtro bom humor à la Wainwright. Porém, se a encenação foi informal (apesar da pompa da indumentária Viktor & Rolf criada para o momento), o concerto foi musicalmente competentíssimo, revelando, mesmo sob autocrítica de quem sabe que não tem voz para cantar jazz, que Rufus é magnífico intérprete em todas as frentes. E quando não se ajusta ao tom, o teatro do momento resolve a questão e a coisa acaba sempre consequente. Dividida em dois actos, a performance não só homenageou Judy Garland como celebrou a herançaa dos grandes musicais dos palcos da Broadway, do West End londrino e do cinema de Hollywood. Rogers & Hammerstein, Noel Coward ou George Gershwin foram autores convocados a um desfile de canções (25 no programa oficial, mais alguns "encores" by public demand), entre as quais se escutaram Puttin On The Ritz, Zing Went The Strings Of My Heart, Chicago, A Foggy Day In London Town ou o inevitável Over The Rainbow, o clímax esperado. Espantosa foi ainda a participação da mana Martha Wainwright, numa soberba versão de Stormy Weather. A outra convidada em palco foi Lorna Luft (filha de Judy Garland e Sidney Luft, portanto, meia irmã de Liza Minnelli), com quem Rufus cantou em dueto After You've Gone.
A sala, onde marcava presenca a nata do showbiz londrino, aplaudiu de pé e não estranhou que, nem nos "encores", Rufus Wainwright tenha resistido à tentação de "contaminar" a noite com canções que não pudessem ter sido cantadas em 1961. Como o próprio cantou, a dada altura, durante o concerto: That's Entertainment!
O alinhamento de 1961 foi seguido a rigor, acompanhado por orquestra de 40 elementos em palco, maestro sempre atento aos imprevistos de um Rufus que assumiu esta revisitação com segura pose informal. Interrompeu o alinhamento tantas vezes quantas Judy o fez, para contar histórias, naturalmente com o já tradicional filtro bom humor à la Wainwright. Porém, se a encenação foi informal (apesar da pompa da indumentária Viktor & Rolf criada para o momento), o concerto foi musicalmente competentíssimo, revelando, mesmo sob autocrítica de quem sabe que não tem voz para cantar jazz, que Rufus é magnífico intérprete em todas as frentes. E quando não se ajusta ao tom, o teatro do momento resolve a questão e a coisa acaba sempre consequente. Dividida em dois actos, a performance não só homenageou Judy Garland como celebrou a herançaa dos grandes musicais dos palcos da Broadway, do West End londrino e do cinema de Hollywood. Rogers & Hammerstein, Noel Coward ou George Gershwin foram autores convocados a um desfile de canções (25 no programa oficial, mais alguns "encores" by public demand), entre as quais se escutaram Puttin On The Ritz, Zing Went The Strings Of My Heart, Chicago, A Foggy Day In London Town ou o inevitável Over The Rainbow, o clímax esperado. Espantosa foi ainda a participação da mana Martha Wainwright, numa soberba versão de Stormy Weather. A outra convidada em palco foi Lorna Luft (filha de Judy Garland e Sidney Luft, portanto, meia irmã de Liza Minnelli), com quem Rufus cantou em dueto After You've Gone.
A sala, onde marcava presenca a nata do showbiz londrino, aplaudiu de pé e não estranhou que, nem nos "encores", Rufus Wainwright tenha resistido à tentação de "contaminar" a noite com canções que não pudessem ter sido cantadas em 1961. Como o próprio cantou, a dada altura, durante o concerto: That's Entertainment!