David Bowie completa hoje 60 anos. Parabéns Mr David Jones... O momento pareceu-nos o ideal para aqui encontrarmos uma figura que nos ocupará regularmente ao longo de todo o ano, ainda por mais tendo sido "ele" quem nos "cedeu" nome para o blogue! Assim sendo, 2007 será o Ano Bowie no Sound + Vision. Regularmente publicaremos posts sobre os seus sons e imagens, os seus discos e telediscos, as suas fotos e filmes, as suas capas e versões, os seus parceiros e universos ao seu redor. Todo um ano para reflectir sobre Bowie, sem que tal nos impeça de manter a habitual atenção sobre a demais actualidade e memória. Assim começamos, hoje, com este prefácio mais o banner de aniversário publicado na BowieNet... E um primeiro aperitivo de som e visão, logo a seguir...
Em 1971, numa das canções do disco que hoje reconhecemos como o seu primeiro álbum perfeito (Hunky Dory), David Bowie cantava “Ch-ch-ch-ch changes”, naquela que se revelaria uma espécie de palavra-chave para uma filosofia de vida que se aplicou às suas dimensões pública e privada. Mudar foi o verbo mais vezes conjugado por David Bowie. E esta ideia garante que hoje, ao celebrar 60 anos de vida (e mais de 40 de carreira musical), se distinga dos demais contemporâneos. Não que entre os que consigo emergiram em 60 - Bob Dylan, Lou Reed, Paul McCartney, os Rolling Stones, para citar veteranos que tiveram nos seus últimos álbuns alguns dos melhores discos das respectivas carreiras ou, pelo menos, os melhores em largos anos – tenha deixado de haver energias criativas. Mas, por fundamentais que todos estes tenham sido na história da cultura do século XX, a Bowie coube a rara capacidade para ser vivo e consequente de forma mais frequente e consistente (apesar da evidente crise vivida entre 1984 e 1992). Nele também reconhecemos maior abertura a novos desafios e contaminações. A novos destinos e formas. De resto, tal como sabemos reconhecer a essência (leia-se um tronco estrutural central) da música de Dylan, McCartney, Reed ou dos Rolling Stones, não conseguimos definir qual é, afinal, o espaço estético fundamental em Bowie. O assimilador da essência folk de Space Oddity e Hunky Dory? O esteta da elegância rock’n’roll de Ziggy Stardust ou Scarry Monsters? O experimentador de Low, Heroes ou 1.Outside? O discípulo das melhores lições da soul de Young Americans ou Let’s Dance? O encenador de distopias de Diamond Dogs? O homem pontualmente confuso, em flirt com o hard rock, de The Man Who Sold The World ou nos Tin Machine? Todo diferente. E nem todo igual. Ch-ch-ch-changes, pois. Olhar e escutar. E mudar.
Quem é David Bowie aos 60 anos? É um nova iorquino que, como tantos nova iorquinos famosos, sai à rua para comprar o jornal ou qualquer coisa para o almoço sem que o incomodem, banal que estas visões são em Manhattan. Um homem casado e feliz pai de família. Gestor de um banco online e uma série de mais investimentos recentes. É atento entusiasta da nova e mais excitante música que se faz (este ano, por exemplo, canta num tema do álbum Return To Cookie Mountain, dos TV On The Radio). E, enquanto os médicos o obrigarem a tal, um homem de vida mais pacata que a que outrora conheceu, a recuperação da operação a que foi submetido em 2004 (uma angioplastia de emergência perante um iminente ataque cardíaco) a tomar ainda prioridades sobre um desejado regresso aos estúdios e aos palcos.
Mesmo sob vigilância médica, David Bowie dá o seu pezinho de pop quando pode. Há mais de um ano actuou por duas vezes, em palco, com os seus “eleitos” Arcade Fire (daí resultando um EP ao vivo). Este ano regressou aos palcos numa gala de beneficência. Prepara a reedição online do EP Baal... Participou no filme O Terceiro Passo, de Christopher Nolan e num episódio da série Extras. Acaba de ver editado um EP gravado no espectáculo de David Gilmour no Royal Albert Hall, com o qual partilhou o palco ao som de Arnold Layne. E espera...
P.S. Este último texto foi originalmente publicado na revista '6ª', do Diário de Notícias