terça-feira, janeiro 09, 2007

Ch-Ch-Ch-Changes

Ano Bowie - 2
'Hunky Dory' - Album, 1971


Um dos mais celebrados discos de David Bowie, Hunky Dory era tudo menos o que se imaginara como sucessor para The Man Who Sold The World. Uma banda nova (que mantinha apenas a presença do guitarrista Mick Ronson), um novo produtor (Ken Scott), uma nova orientação musical nascida de canções essencialmente compostas ao piano. E, acima de tudo, uma mudança significativa na agenda temática convocada. Este era um disco de catarse, tendo Bowie mais tarde descrito a personagem que aqui vestiu como a sua própria projecção no hipotético sofá de um psicanalista. Um disco libertador, ponto de viragem (e de nova partida) que se provaria fulcral episódio na sua história musical.
O curto hiato entre The Man Who Sold The World e Hunky Dory assistiu a mudanças determinantes. Ch-ch-ch-changes… Tony de Fries conseguia um novo contrato, mais vantajoso, com a RCA. Bowie leu Nietzsche e gravou dois singles, incógnito, com a banda Arnold Cons (e quase ninguém deu por eles). Angie e o novo amigo, o exuberante estilista Freddi Burretti, incentivavam novas e mais ousadas atitudes, que a passagem do musical Pork pelos palcos de Londres definitivamente catalisou. Marcante é também um fascínio pela América, que se revela em referências concretas a alguns dos seus heróis, nomeadamente Andy Warhol (no tema com o mesmo nome), Lou Reed (em Queen Bitch) e o cinema (a fotografia da capa denunciando esta relação). Neil Young é outra das influências evidentes, nomeadamente no magnífico Kooks, tema que Bowie compôs no dia em que nasceu o seu primeiro filho, Duncan Zowie.
Hunky Dory é, salvo em dois pontuais episódios eléctricos, uma sumptuosa e eloquente exposição de belíssimas canções acústicas, de arranjos (assinados por Bowie e Ronson) que frequentemente destacam a presença do piano (novamente Rick Wakeman, que já colaborara em Space Oddity) e das cordas. A riqueza textural do disco herda, claramente, ensinamentos colhidos por Ken Scott que, meses antes, trabalhara com George Harrisson no monumental All Things Must Pass.

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