sábado, janeiro 20, 2007

Lei-lei-lei-leituras

Ano Bowie - 14
'Hallo Spaceboy', de Dave Thompson - Livro, 2006
'Fame, Sound and Vision', de Nick Stevenson - Livro, 2006

David Bowie tem somado, desde meados de 90, livros na prateleira, nenhum deles contudo nascido “oficialmente”. Destacam-se entre muitos as sólidas biografias Loving The Alien de Christopher Sandford (Little Brown & Company, 1996), Strange Fascination de David Buckley (Virgin Books, 1999) e o “bíblico” compêndio The Complete David Bowie (RH Books, segunda edição revista e aumentada em 2004). O que justifica, então, novos livros?
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Hallo Spaceboy, de Dave Thompson (que em 1987 publicou a biografia Moonage Daydream), continua a história desde o primeiro volume de há 19 anos. Uma história que começa no ponto certo (o pior momento de desnorte criativo na carreira de Bowie) e relata como, em poucos anos, deixou se ser o homem “acabado”, a “estrela de ontem”, para se afirmar, tronco erguido, como um dos globalmente mais respeitados ícones da história da pop. Do disparate Tin Machine à reinvenção em Buddha of Suburbia e 1.Oustide, da revisão de pistas pessoais em hours... à implosão do nunca editado Toy, do apadrinhar dos Nine Inch Nails, Placebo ou Arcade Fire à colaboração com os TV On The Radio, um olhar pormenorizado, por vezes crítico, de uma invulgar ressurreição pop. Aos relatos, Dave Thompson acrescenta completas listas de todas as sessões de gravação de Bowie (e o que nelas se gravou, editou e não editou), de todos os concertos gravados e de todas as remisturas de temas seus.
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Substancialmente diferente, Fame, Sound and Vision, de Nick Stevenson, procura antes relacionar David Bowie a um nível sociológico e cultural com os acontecimentos do seu tempo. Inscreve-o como fruto da cultura da Londres de 60 (e retrata as suas tentativas frustradas de sucesso antes de Space Oddity), relaciona-o com figuras e feitos do pós-modernismo em 70, retrata o flirt com o mainstream nos 80 e as redescobertas de 90. E completa o quadro com uma série de olhares sobre os que, desde há muito se afirmaram seus admiradores e herdeiros. O capítulo sobre os fãs (ou, se preferirem, os "admiradores") de Bowie é, de resto, o mais original dos olhares que este livro retrata. No seu todo, contudo, Fame, Sound and Vision foge ao mero relato biográfico, representando a sua tentativa de relacionamento dos tempos de Bowie com "os seus tempos" uma leitura capaz de levantar algumas novas questões, naturalmente à luz dos novos conceitos de fama que hoje tele-vivemos.
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