Kristin Hersh “Learn To Sing Like A Star”
A voz de Kristin, aos 40 anos, é de tudo menos de alguém que procura imitar a estrela que não é nem quer ser. É uma voz vivida, magoada e recomposta. Veículo de dor e perda. De aparente resignação mais que de vontade em gritar por causas perdidas. Learn To Sing Like A Star é, todavia, tudo menos um álbum de uma desistente. É, antes, um olhar maduro sobre etapas de vida que a razão acaba de conquistar à emoção (nunca a obliterando, contudo). Este é um disco substancialmente diferente do anterior The Grotto (de 2003), no qual participavam Howe Gelb e Andrew Bird. Kristin é omnipresente. Toca quase todos os instrumentos, salvo a bateria (que entrega a David Narcizo, dos Throwing Muses) e as cordas, violino e violoncelo respectivamente nas mãos de Martin e Kimberlee McCarrick. As canções são híbridos não laboratoriais que cruzam a fragilidade das cordas e o desenhar de melodias no dedilhar da guitarra acústica com o vigor de uma electricidade contida (em evidente manifestação de uma linguística que tem nos Throwing Muses uma identidade há muito firmada). A voz transporta uma melancolia em estado de consciente nudez, que corta o fervor da intensidade que brota do amplificador. “Pinned by a dream state / you are fearless / and your empty arms /waiting for no one / you wanted to be wanted” canta logo nos primeiros instantes de In Shock, observando-se como se vista a si mesmo de fora. Ponto de partida para uma viagem onde a crueza sóbria das palavras convive com uma música tão terna quanto inquieta.
Madonna “The Confessions Tour”
Na verdade estamos mais frente ao extra de um DVD que, propriamente a um álbum ao vivo. Do DVD, sem gastar muito francês, diga-se que c’est genial! É o melhor dos filmes de concertos de Madonna, a colaboração com o realizador Jonas Akerlund atingindo aqui aquele sentido de empatia característico de velhos cúmplices. Este é o mais político de todos os concertos de Madonna, farpas lançadas sem o peso “oficioso” dos discursos de Bono ou Sting. E, na música e performance, o atingir da perfeição de um modelo de espectáculo feito de quadros que Madonna desenvolve desde a Girlie Tour de há quase 18 anos, espaço todavia para lançar pistas sobre futuras demandas performativas quando veste, simplesmente, a pele da cantora em I Love New York, os músicos bem visíveis a seu lado. Já o CD carece claramente da imagem para conseguir o mesmo efeito. Aqui estamos apenas perante uma reinvenção, com palmas e gritos do que escutámos em disco de estúdio, a diferença justificando-se apenas nos temas antigos trazidos para a linguagem “Confessions” ou no já citado I Love New York, onde a vova vive de facto a intensidade do palco da mesma forma que o corpo a dança nos demais momentos.
Clap Your Hands Say Yeah “Some Loud Thunder”
Há pouco mais de um ano as atenções voltavam-se para este colectivo de Brooklyn que, como poucos, conseguira encontrar espaço para afirmar um rasgo de personalidade própria em sede cut & paste. E, feitas as contas, o seu álbum de estreia, lançado sem editora, acabou como um dos mais significativos do ano. Um ano depois, o segundo disco não só mostra o que parecem ser sobras dispensáveis das sessões do primeiro (não o sendo na verdade), limitando-se a repetir modelos sem a eles trazer mais que uma ou outra pitada de intervenção política fácil. Some Loud Thunder é seco deserto de ideias e, sobretudo, de canções. Um inesperado soco no estômago de uma carreira que parecia poder afirmar-se como líder de uma nova mensagem. Mas que, para já, acaba com um único episódio digno de referência.
Philip Glass “The Witches Of Venice”
Entre as novas edições a assinalar os 70 anos do compositor contam-se primeiras gravações para a ópera The Voyage (experiência com travo de ficção científica com gancho na memória da histórica viagem de Colombo) e, mais cativante ainda, The Witches Of Venice, esta última uma peça de teatro nascida de um conto infantil do italiano Beni Montresor, cuja música evoca a de 1000 Airplanes On A Rooof (integralmente electrónica), todavia temperada pelo lirismo de La Belle et La Bête e um sentido mágico e terno que por vezes lembra lullabies (o disco surge num booklet com desenhos, e não tem edição para download nem está prevista a sua distribuição em Portugal).
Também esta semana: The Shins (apresentação, aqui, de hoje a oito dias), Benji Feree, Billy Bragg (reedições), Norah Jones, Dexys Midnight Runners, Sister Sledge (best of), Aretha Franklin (best of), Chumbawamba (live), Os Mutantes (compilação), Uri Caine
Brevemente
5 de Fevereiro: Field Music, Klaxons (edição local), Bloc Party, Triffids (reedições), Blind Zero (acústico), Nick Cave (DVD)
12 de Fevereiro: U-Clic, Amy Winehouse (edição local), Van Morrisson (músicas para cinema), Peter Björn & John, Nick Cave (live CD), Johnny Cash (live)
19 de Fevereiro: John Cale (live), Lucinda Williams, Johnny Greenwood
Fevereiro: Patrick Wolf, Pop Levi, Bowie (reedições), Kaiser Chiefs, Tarnation, High Llamas, Frank Black, Stereo Total, Gus Gus, Damned (reedição)
Março: Arcade Fire, Air, Bryan Ferry, Mika, The Knife (DVD), Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Da Weasel, Arctic Monkeys, LCD Soundsystem, The Stooges
Abril: Rufus Wainwright, Bright Eyes, Spiritualized
Estas datas podem ser alteradas a todo o momento