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No debate que é tutano do filme apenas duas vozes. Isabel II, a defender um funeral privado, discreto, sublinhando que Diana não era mais elemento da família real. E Blair, a alertar a rainha de uma inquietude entre os ingleses em geral, decididos a assinalar com emoção e mais “espectáculo” a morte da “sua” princesa. A Rainha vive com sobriedade e rigor este debate crítico na história da monarquia inglesa. Sublinha a brisa de mudança desejada e protagonizada por Blair. E vinca a austeridade consciente (e maternal) de Isabel II. A construção narrativa pode revelar evidências da lógica do telefilme e do clássico “rigor” das séries da BBC. Mas A Rainha sobrevive a este dispositivo formal relatando os factos com sobriedade e sem quaisquer indícios de arrivismo ou vontade em ser gratuita crítica a uma mentalidade mais conservadora, que naturalmente caracteriza a coroa inglesa. Stephen Frears recorre apenas a factos registados, a certezas consumadas, evitando a lógica do escândalo de tablóide a que nos habituámos em tantas outras intrusões pelos espaços privados da monarquia inglesa. Suportada por soberbas interpretações de Helen Mirren (Isabel II) e Martin Sheen (Tony Blair), acautelando ainda sólidas caracterizações de personagens secundárias (o Príncipe Filipe, a Rainha Mãe, o Príncipe Carlos, a mulher de Blair e a corte de assessores), um retrato realista da realeza actual.
O filme não deixa ainda de focar o peso dos media na sociedade actual. Não só é contundente (sem contudo emitir juízos de valor) o retrato da presença de papparazzi nos instantes que antecedem a morte de Diana. Como se reconhece a evolução das tendências de opinião pública (sobretudo na sua relação com a Monarquia) nos dias seguintes, os diferentes jornais e televisão tendo presença constante no desenrolar da acção. A família real, em privado, a comentar a transformação da sua vida em espectáculo mediático (e o papel de Diana nesse processo), com direito a hilariante momento de comic relief, pela voz da Rainha Mãe.