Post Industrial Boys “Trauma”
Dois anos depois de um soberbo álbum de estreia, o colectivo Post Industrial Boys apresenta um segundo disco. Trauma, mais negro que o primeiro, todavia esteticamente mais apurado e liricamente mais coerente (a opção dominante pelo inglês como língua protagonista a reforçar esta unidade), é um interessante retrato de um lugar (a Geórgia, ex-república soviétiva) e um tempo (o hoje, a vida real no pós-comunismo). Mais, portanto, que apenas um apelativo conjunto de canções feitas com electrónicas. Trauma. Assim se chama o segundo disco de canções que Gogi recrutou em dois anos de trabalho, a maior parte das quais com palavras pedidas a letristas vários, entre os quais Thomas Brinkman (o mentor da editora Max Ernst) e o escritor norte-americano Kurt Vonnegut. Canções feitas de austera pop electrónica, sem a diversidade de rumos que se escutara no álbum de estreia. A vida depois da queda do comunismo é tutano nas histórias, personagens e observações, palavras cantadas com uma eloquência quase aristocrática que contrasta com a desolação retratada. Entre os originais, uma versão, ao jeito Post Industrial Boys, desbotada, despojada, metronómica, de Walk On The Wild Side, de Lou Reed. Apesar das possíveis afinidades entre as pistas de solidão e decadência do lado errado de Nova Iorque aqui relatadas e os traumas pós-comunismo da Geórgia que o projecto ilustra, este revela-se o momento dramaticamente mais inconsequente de um disco que consegue, sob política digital, ter o fôlego melancólico de grandes cantautores. Pop noir, à caucasiana.
Sufjan Stevens “Songs For Christmas”
O mais apetitoso dos discos editados este Natal é, sem dúvida, a caixa Songs For Christmas que Sufjan Stevens lança em ano e pousio entre o megalómano projecto de retrato dos estados dos EUA (dos quais já visitou o Michigan e Illinois). Aqui reúne cinco EPs, gravados, um por ano, desde 2000 (salvo em 2004), destinados a ser prendas para os seus amigos, nos quais partilha, agora, connosco, versões de cânticos tradicionais e composições suas, estas últimas claramente as mais interessantes das peças deste lote de mais de 40 canções. A sonoridade de genética folk, mas de alma versátil (a que escutámos em Illinois), domina esta colecção onde o espírito de Natal mais clássico não perde ao ser confrontado com outras visões e tempos. Atenção, sobretudo, aos originais de Sufjan, que sublinham outras formas de olhar, reflectir e retratar o Natal. Engenho e boas ideias ao serviço de uma das mais antigas tradições da indústria discográfica.
Weekend “La Varieté”
Como quem foi do 8 ao 80, Alison Statton arrumou na memória a essência radical, asceta e austera dos Young Marble Giants e apresentou em 1982, nos Weekend, uma ideia nos antípodas das que, dois anos antes, haviam feito história no fundamental Colossal Youth. Acompanhada por Simon Booth e Spike, revelou nova visão pop quente, garrida, luminosa, temperada a estímulos inesperados, do jazz à bossa nova, pitada de high life e chanson a completar um bouquet vivo e cativante de belíssimas canções. La Varieté é, como o título o indicia, um espectáculo de variedades, palco para a voz de Alison Statton se aventurar por pequenos monumentos de prazeres novos para a ordem instituída, desenhando em canções como Drum Beat For Baby ou Summerdays as fundações de uma nova genealogia pop que nos revelaria, depois, nomes como os Everything But The Girl, Style Council, St Etienne ou Working Week (este último o destino de Simon Booth depois de dissolvido o trio, em 1984). Esta magnífica reedição junta ao álbum de 1982 demos e dois máxis, ficando de fora (pelo que ainda se espera a integral definitiva) o EP gravado ao vivo no Ronnie Scott’s, em 1983.
Antenna “Camino del Sol”
Contemporânea dos Weekend, e de espantosas afinidades, a música dos franceses Antena (a banda que revelou a voz de Isabelle Antena) mostrava caminhos igualmente diferentes e ousados no álbum de estreia Camino del Sol, em 1982. A austeridade dos Young Marble Giants sente-se na raiz desta música que, contudo, aceita o prazer carnal de flirts com Tom Jobim (de quem adaptam Garota de Ipanema, a quem mudam o sexo). A voz sussurrante e as electrónicas discretas de Isabelle, as percussões de Jair Moreira e a presença de dois Tuxedomoon (Steven Brown e Blaine Raininger) constroem um coeso mundo de contagiantes sonhos pop de luz e sedução que, nesta reedição, acolhem, como extras, dois temas inéditos.
Dado não haver edições nos próximos dias, os ‘Discos da Semana’ regressam em Janeiro
Brevemente:
15 de Janeiro: Carla Bruni, JP Simões, Talking Heads (best of), Sonic Youth (lados B), John Cale (live)
22 de Janeiro: The Good The Bad and The Queen, Supremes (best of), The Shins, John Cooper Clarke (reedição), Nine Horses (EP), Architecture In Helsinki (remisturas), Residents, Alasdair Roberts, Field Music, Iggy Pop (live)
29 de Janeiro: Klaxons, Wendy Carlos
Fevereiro: Triffids (reedição), Clap Your Hands Say Yeah, Kasabian (edição nacional), Bloc Party, Patrick Wolf
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento
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