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Pierre Pinoncelli foi condenado, em Janeiro de 2006, a pagar uma indemnização de 200 mil euros ao
Museu de Arte Moderna de Paris / Centro Pompidou. Razão: a des-truição, com um martelo, de uma cópia de
Fonte (1917), um dos mais célebres
readymade de
Marcel Du-champ (1887-1968) que transfigura um vulgar urinol numa peça de arte, desse modo abrindo um debate — longe de estar encerrado — sobre as relações entre o gesto criativo, a instauração do valor artístico e o mercado da arte. O processo legal continua por concluir, tendo Pinnoncelli interposto recurso. Numa sessão recente, o advogado de defesa lembrou que objectos semelhantes se encontram em catálogos de fabricantes de louças sanitárias pelo preço de 83 euros; segundo o Centro Pompidou, a
Fonte de Duchamp vale 2,8 milhões de euros.
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Este é um dos casos recordados na edição de hoje do jornal Libération, para discutir o tema
"Os juízes redefinem os con-tornos da arte", ou seja, as relações instáveis entre a criação artística e o enquadramento legal da sua prática e dos respectivos efeitos sociais. O dossier é tanto mais estimulante quanto surge em paralelo com um balanço de "Os objectos que marcaram 2006" — entre os escolhidos figuram o
polónio que matou o espião russo Alexandre Litvinenko, o
casaco branco de Ségolène Royal (candidata do PS francês nas presidenciais de 2007) e as novas
máquinas digitais nos campos da fotografia, video, música, etc.
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