sexta-feira, dezembro 29, 2006

2006: Os Filmes

Segundo balanço detalhado, hoje a destacar as grandes estreias do ano nas salas de cinema e as melhores edições em DVD.

JL:

Cinema
Cada vez se vai menos ao cinema pelo... cinema. Há todo um público novo que se relaciona de forma acidental com os filmes (respondendo sobretudo às especificidades de determinadas campanhas) e que, no limite, perdeu toda a crença cinéfila. Os filmes maioritariamente consumidos poderão ser "bons" ou "maus" (não é isso que está em causa), mas é um facto — simultaneamente cultural e económico — que vivemos a desagregação da base tradicional de consumo e fruição do cinema. Dito isto, saúde-se o melhor, isto é: a capacidade do mercado, apesar de tudo, continuar a manter uma oferta relativamente diversificada, com um peso crescente de produtos não especificamente americanos. Seja como for, a colheita made in USA (incluindo o sempre inclassificável Ferrara) foi muito boa.

'Juventude em Marcha', de Pedro Costa
'Gabrielle', de Patrice Chéreau
'Entre Inimigos', de Martins Scorsese
'A Senhora da Água', de M. Night Shyamalan
'Uma História de Violência', de David Cronenberg
'A Criança', de Luc e Jean-Pierre Dardenne
'Maria Madalena', de Abel Ferrara
'Nada a Esconder', de Michael Haneke
'Infiltrado', de Spike Lee
10º 'Boa Noite, e Boa Sorte.', de George Clooney

DVD
Talvez a marca mais importante do ano seja também a mais preocupante: o número crescente de títulos lançados directamente em DVD (sem terem passado pelas salas) significa uma boa abertura do mercado, mas pode também querer dizer que alguns distribuidores/exibidores tendem a apostar cada vez menos na tão importante diversificação da oferta nas salas. Além do mais, embora haja casas editoras com estratégias precisas (a Costa do Castelo foi a que deu o maior salto qualitativo e quantitativo do ano), outras existem que não têm nenhum programa coerente de marketing e, mais do que isso, olham com olímpica indiferença o trabalho jornalístico de informação e opinião. Entre os grandes filmes "esquecidos", recuperados pelo DVD, incluem-se F de Fraude (Welles, 1974) e Noite e Nevoeiro (Resnais, 1955), este incluído na edição de Hiroshima Meu Amor.

'Sympathy for the Devil', de Jean-Luc Godard
'Bubble', de Steven Soderbergh
'F de Fraude', de Orson Welles
'L'Atalante', de Jean Vigo
'Hiroshima Meu Amor', de Alain Resnais
'Aurora', de F. W. Murnau
'O Sacrifício', de Andrei Tarkovski
'A Quadrilha Selvagem', de Sam Peckinpah
'Um Eléctrico Chamado Desejo', de Elia Kazan
10º 'O Rio Sagrado', de Jean Renoir

NG:

Cinema
Houve filmes que nem sequer passaram pelas nossas salas (Bubble, de Steven Soderbergh; Glastonbury, de Julien Temple ou Segredos Urbanos de Chris Terrio). E outros pelos quais esperámos mais de um ano (Uma História de Violência, de David Cronenberg; Amor Suspeito de Emmanuel Carrère ou Eu, Tu e Todos os Que Conhecemos, de Miranda July). Mesmo assim somaram-se alguns feitos. Arrepiante, Ninguém Sabe mergulha numa espiral de caos em microcosmos familiar de pais ausentes. Deslumbrante, Marie Antoinette é retrato impressionista do vazio das vidas na Versailles no ocaso do antigo regime. Prémio para pior filme do ano (onde havia muitos candidatos) para Modigliani.

'Ninguém Sabe', de Hirokazu Kore-eda
‘Marie Antoinette’, de Sofia Coppola
‘Amor Suspeito’, de Emmanuel Carrère
‘O Segredo de Brokeback Mountain’, de Ang Lee
‘A Lula e a Baleia’, de Noel Baumbach
‘Match Point’, de Woody Allen
‘Nada a Esconder’, de Michel Haneke
‘Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos’, de Jonathan Dayton e Sylvia Faris
‘Uma História de Violência’, de David Cronenberg
10º 'Sonhar Com Xangai’, de Xiaoshuai Wang

DVD
As edições directas para o DVD (ou seja, as que não passaram por sala), fazem parte da ementa dos melhores títulos do ano (o que dá que pensar sobre as políticas de exibição em sala). Mas houve outros episódios notáveis. Em primeiro as séries de televisão, cada vez mais um espaço de destaque no panorama editorial do DVD. Destaque inevitável para a pouco mediatizada, mas sublime, A Feira da Magia (Carnivale no original), verdadeiro monumento de cinema para ver no pequeno ecrã. Igualmente em alta, excelente Roma e a primeira época de Lost (que parece estar a perder-se na terceira). E não nos esqueçamos dos clássicos, que este ano chegaram em farta e boa oferta, sobretudo via Costa do Castelo, assinalando-se ainda a boa série de títulos (sem extras, contudo) da Fox, que entretanto começaram a ser regularmente editados entre nós. Nesta lista optei por apontar apenas edições no mercado português.

‘A Feira da Magia’, criada por Daniel Knauf
‘Roma’, criada por J. Millus e B. Heller
‘Bubble’, de Steven Soderbergh
‘Tarnation’, de Jonathan Caoette
‘L’Atalante’, de Jean Vigo
‘Segredos Urbanos’, de Chris Terrio
‘Glastonbury’, de Julien Temple
‘Zombie’, de Jacques Tourneur
‘Loud Quiet Loud’, de Stevemn Cantor
10º ‘Metropolis’, de Fritz Lang

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