Quatro anos depois da espantosa estreia em L.I.E. (uma das melhores primeiras obras da presente década), somando entretanto a realização de alguns episódios da série Sete Palmos de Terra, e tendo recentemente assinado outros, para Dexter, Michael Cuesta apresenta em Aos 12 e Tantos (Twelve and Holding, no original) mais um olhar intenso sobre os universos da adolescência e das mudanças e ritos de passagem que comporta.
A história é simples e linear. De uma vingança de uma quezília light com final trágico (e não imaginado) entre grupos de adolescentes resulta a morte de um de dois irmãos gémeos. Sobrevive Jacob, o mais tímido, com ostensiva falta de amor próprio (sobretudo alimentada pelo estatuto predilecto do falecido irmão), e que frequentemente esconde uma mancha congénita na face com uma máscara. Juntamente com dois amigos da mesma idade, o obeso Leonard (que, na sequência do mesmo acidente, perde o paladar e ganha a consciência do seu peso, decretando a si mesmo uma dieta de maçãs, maçãs e nada mais que maçãs) e Malee (que se apaixona por um paciente da sua mãe, psicóloga, que descobre a trabalhar numa obra no preciso local onde o irmão de Jacob morreu), vemos de perto acontecimentos num período de poucos meses e muitas mudanças. Todos têm 12 anos, mostrando-nos o filme como as mutações nos seus comportamentos correspondem a rotas de descontrolo emocional, amplificadas ainda mais pela disfuncionalidade da vida familiar de cada um (e, aqui, as mais directas ligações com aquela que era, na essência, a temática nuclear de L.I.E.).
Uma vez mais sem nos forçar a um quadro moral (nem mesmo quando projecta pulsões de vingança no pequeno Jacob, em grande parte vindas de palavras magoadas da sua mãe), Michael Cuesta exibe uma invulgar capacidade no retrato do universo adolescente da América actual. Mas sublinha, pelas personagens e sua história, a vontade em manter sobretudo viva a vontade em observar como se comporta, no contexto social actual, a entidade família perante um período de complexas mudanças pelas quais passam os filhos num tempo em que expressam o seu luto pela infância e entram na adolescência. Aos 12 e Tantos não respira nunca a intensidade de L.I.E., talvez por diluir a sua (e nossa) atenção por uma série de personagens em simultâneo. Mas não deixa de ser uma segura continuação de uma obra que promete muito.
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