O nosso século XXI, herdado dos destroços morais do anterior, esqueceu-se que o erotismo não é o mesmo que o nu — em última instância, uma coisa e outra não têm nenhum contrato nem nenhuma dependência obrigatória. Por isso, já quase ninguém fala do erotismo nos filmes. Pior do que isso: se alguém aplica a expressão "filme erótico", é quase sempre por suspeição moralista ou medíocre chacota. A Gata, segundo Tennessee Williams, é um filme que faz do erotismo, não um "tema", mas um verdadeiro cenário em que tudo se oculta e tudo se revela. Por alguma razão, o dramaturgo Williams, sem nunca ter dirigido um filme, entrou na história do cinema como uma personalidade eminentemente transformadora. Neste caso, as convulsões no interior de uma família do sul dos EUA passam, todas elas, pelo erotismo suspenso (e a suspensão envolve sempre algum suspense) de Maggie e Brick, o casal interpretado por Elizabeth Taylor e Paul Newman. Sobre a linha perfeita das costas de Maggie derrama-se, afinal, o olhar de Brick, como se a imagem pudesse ser um mapa metódico do desejo de quem nela inscreve as ambivalências do seu ser. A direcção fotográfica é de William H. Daniels, mago do imponderável das cores, mesmo quando as cores eram o preto e branco (por exemplo, em Margarida Gautier, com Garbo, em 1936, sob a direcção de George Cukor).
CAT ON A HOT TIN ROOF / Gata em Telhado de Zinco Quente
CAT ON A HOT TIN ROOF / Gata em Telhado de Zinco Quente
EUA, 1958
Realização: Richard Brooks
Produção: Lawrence Weingarten
Argumento: Richard Brooks e James Poe, segundo peça de Tennessee Williams
Interpretação: Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives
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Realização: Richard Brooks
Produção: Lawrence Weingarten
Argumento: Richard Brooks e James Poe, segundo peça de Tennessee Williams
Interpretação: Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives