segunda-feira, setembro 11, 2006

Discos da semana, 11 de Setembro

R.E.M. “The Best Of The I.R.S. Years, 1982-1987”
Muito antes dos hinos que chegaram às RFMs do mundo fora, muito antes de uma inesperada (mas justificada) elevação do grupo a um estatuto de transversalidade no gosto global que dele fez depois um dos nomes mais populares de 90, a década de 80 foi palco de aventuras de menor visibilidade mas, indubitavelmente, maior concentração de grandes acontecimentos e revelações. Nascidos na alvorada da década, os R.E.M. foram das primeiras bandas a partir da ressaca da new wave para reencontrar, num novo contexto, a ideia de garage rock, busca que não alheou do seu cartaz de referências um interesse pelo legado folk que, mais tarde, acabaria por tomar mais evidente peso na equação da escrita das canções do grupo. Grandes álbums como Murmur (1983), Reckoning (1984), Fables Of The Reconstruction (1985), Life’s Rich Pageant (1986) e Document (1987) são peças determinantes na construção de uma nova identidade indie rock americana e sua sólida inscrição como língua franca de uma nova geração de college radios, terreno então desbravado para o aparecimento imediato de uma multidão de novos talentos e ideias, revelando depois nomes como os Pavement ou Throwing Muses, entre muitos outros. Este é um best of que, apesar de apontado à época do ano em que se pensa primeiro quanto se vende e, só depois, o que se vende, é gourmet de memórias fundamentais deste período. Uma selecção de tijolos estruturais da identidade indie rock americana que não dispensa a consulta integral dos álbuns da época mas serve, em primeira análise, de bom ponto de partida ou oportuna revisão de grandes momentos, prova de que, comparado com o que nos tem dado ultimamente, a banda já viu melhores dias. Precisamente estes, que a fizeram um nome incontornável na história da música popular.

Vários “Leonard Cohen: I’m Your Man”
Banda sonora para o documentário de Lian Lunson que vimos, há poucos meses, no IndieLisboa, o disco é, também, documento parcial do espectáculo com versões de Leonard Cohen que Hal Wilner idealizou para comemorar o dia do Canadá no Festival de Brooklyn em 2002 e que, entretanto, ganhou vida própria, já apresentado em Sidney e Brighton. O filme foi uma oportunidade perdida para um trabalho de fundo (e fôlego) sobre um dos maiores cantautores do século. Monótono, entremeada de entrevistas e actuações, nem aproveitou o tutano das palavras, lançando aos poucos, sem qualquer aparente critério as canções registadas em palco… A banda sonora poupa-nos ao filme, e deixa-nos com alguns dos seus melhores pedaços, na forma de versões. Rufus Wainwright brilha num Chelsea Hotel que canta com a propriedade de quem nele (de facto) viveu por uns tempos e transforma Everybody Knows a seu jeito. Martha, a irmã, dá vida muito sua a Tower Of Song. Antony transporta If It Be Your Willl para um virtual palco de Memphis nos anos 60, contagiante banda rhythm’n’blues a seu lado. Jarvis Cocker conquista num I Can’t Forget com personalidade transformista, pop, claro. Nick Cave sublinha visceralidade em I’m Your Man. Depois, sem o mesmo fogo, Teddy Thompson, Beth Orton, a dupla Handsome Family e as manas McGarrigle completam um leque onde não faltam, com a sua graça, Perla Batalla e Julie Christensen. Final, contudo, em alta, na versão de estúdio de Tower Of Song com o próprio Cohen ao lado dos U2. Agradável, mas longe de superar o tributo I’m Your Fan, de 1991.

Prince “Ultimate”
Finalmente editada a antologia anunciada pela altura do lançamento do último álbum de originais de um dos maiores génios activos nos dias de 80 (depois perdido para demandas erráticas e inconsequentes das quais nunca mais recuperou em pleno). A antologia centra-se essencialmente em gravações entre 1979 e 1992, ignorando (inteligentemente) a etapa final de gravações para a Warner em meados de 90. Guardam-se, pois, aqui, algumas das suas mais inesquecíveis canções, os clássicos que fizeram a história, um recordados nas versões originais, alguns evocados nas remisturas dos máxis originais (estas reunidas no CD2). À excepção de Girls & Boys, Batdance e Paisley Park, está representada a galeria das glórias de Prince. Pena que o inlay, apesar da boa foto panorâmica de capas de discos, não registe por palavras a importante história que aqui se conta.

Michael Brook “Un Inconvenient Truth”
Tendo já trabalhado com Davis Guggenheim em dois documentários sobre educação, Michael Brook regista para Uma Verdade Inconveniente (filme com Al Gore, sobre o aquecimento global, que estreia esta semana entre nós) uma banda sonora inteligentemente pensada para servir um ambiente (e uma agenda de ideias), daí nascendo depois aquele que se revela agora como um dos seus melhores discos. Brook é já um veterano, com trabalho de ambos os lados da mesa de gravação de estúdios desde finais da década de 70. Para Uma Verdade Inconveniente reencontra modelos apreendidos nos dias “ambientais” junto de Brian Eno e Harold Budd, servindo paisagens electrónicas delicadas, tranquilas, terapêuticas.

Também esta semana:
Amy Millan, Echo & The Bunnymen (best of), Baumer (reedição), Johnny Cash, The Byrds (best of), Magoo

Brevemente:
18 de Setembro: Scissor Sisters, Junior Boys, U2 (DVD), Electronic (best of), Camera Obscura, The Album Leaf, The Hidden Cameras, The Veil, Bonnie Prince Billy, Charlotte Gainsbourg, Cassius
25 de Setembro: Guillemots (edição nacional), Loto, Pixies (dois DVDs), Depeche Mode (3 reedições e um DVD), Arthur Russell (reedição), The Byrds (caixa), Alex Kid, Lurent Garnier, Lloyd Cole
2 de Outubro: Beck, The Killers, Arrested Development, Pipettes (edição nacional), Juliette & the Licks, Black Keys, Mercury Rev (best of), Four Tet (remisturas)

Outubro: U-Clic, Maximilian Hecker, Kasabian (edição nacional), Sam The Kid, Sérgio Godinho, The Gift (ao vivo CD e DVD), Protocol, Goldfrapp (remisturas), Pet Shop Boys (CD ao vivo e DVD), Philip Glass (ópera), Duran Duran (2 reedições), Robbie Williams, Clinic, Chuck E Weiss, Jay Jay Johansson, Isobel Campbell, Datsuns, Aimee Mann
Novembro: Humanos (ao vivo), Mariza (ao vivo), Tom Waits, Moby (best of), Jarvis Cocker, Sons & Daughters, Bryan Ferry, The KBC, Third Eye Foundation.

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento

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