Arthur Lee auto-intitulava-se “o primeiro hippie negro” e viveu errática existência musical, redenção encontrada nestes seus cinco últimos anos de vida quando, depois de cumprida uma pena de prisão, juntou uma nova versão dos Love e partiu para a estrada para concertos nos quais tocou, na íntegra, o seu “clássico” Forever Changes.
A nova banda correu mundo, convidada a comparecer na edição de 2004 do Festival Sudoeste onde, contudo, tocou sem a presença de Arthur Lee, alegadamente tendo perdido o avião que o deveria ter trazido a Portugal.Dado o declínio gradual da saúde física e mental de Arthur Lee, os restantes elementos da banda acabaram por despedi-lo do colectivo por si criado, em Outubro de 2005. Os problemas, que o manager (que entretanto também abandonou os Love) reconheceu terem começado com a falta ao concerto no Sudoeste, agravaram-se mais ainda quando o grupo se juntou para gravar novos temas em estúdio. Depois do despedimento Lee tinha já reunido nova banda e começado a gravar originais, quando o diagnóstico de leucemia o levou para o hospital pela primeira vez, já este ano.
Em menos de um mês, desapareceram os dois maiores e mais talentosos visionários de uma das gerações que, como poucas, marcou pelo arrrojo e diferença a história da música popular. Um há muito retirado (Syd Barrett). O outro ainda com desejo em concretizar novas ideias. Um, o diamante louco que levou cor e novas formas a Londres. O outro, o mais encantador profeta quimicamente alterado que da música com cheiro a Terra fez surgir novas imagens para novas formas de percepção.
PS. Versão longa de texto hoje publicado no DN