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Estamos num reino imaginário, assolado pela guerra há gerações sem conta. Um velho rei tirano, carcomido pelo caruncho do remorso, escolhe a morte voluntária, deixando por herança ao filho o desafio de fazer a paz, testamento que redige numa carta. Ora, o mau da fita, o seu irmão cruel e ambicioso (voz de Derek Jacobi), assiste à cena e, em vez de entregar ao sobrinho a carta de despedida do velho rei, apresenta a sua morte como assassinato pelo rival inimigo de sempre, paz novamente adiada. A sede de vingança ensopa a madeira do jovem herdeiro que sai da cidade em busca do assassino imaginário, mal sabendo que está a entregar o poder nas mãos do tio… Vencerá o mal. Ou haverá, afinal, esperança?...
A história, está visto, é de banalidade de má carpintaria, não sendo portanto pela narrativa que o filme tem conquistado admiradores. A verdadeira força de O Fio da Vida nasce, antes, da forma imaginativa como as características físicas das marionetas são usadas em favor da sua caracterização, da espantosa fotografia e de uma direcção artística digna de louvor. Geram-se assim quadros visuais deslumbrantes, capazes de nos fazer transcender o primarismo estrutural de um conto de fantasia banal, conferindo-lhe verdadeiros temperos góticos.