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Com Jack Nicholson e Maria Schneider, Profissão Repórter é a história de um homem que ocupa o lugar de outro — literalmente, assumindo a identidade de alguém que morreu. Nessa medida, ele passa a ser o vazio de outro, sobreposto ao vazio que sobre si mesmo decretou. Tudo isso num mundo de muitas informações cruzadas em que o excesso de mensagens parece gerar um vazio ainda maior — 31 anos depois, os paralelismos com o aqui e agora parecem ter-se multiplicado de forma inquietante, de tal modo a démarche de Antonioni é visionária e premonitória.
Acima de tudo, este é um filme que nos devolve ao coração de uma questão eminentemente existencial & cinematográfica. A saber: de que modo a(s) imagem(ns) que temos do mundo são também o princípio do nosso desconhecimento (ou, para utilizar uma palavra forte do tempo em que o filme foi feito: da nossa alienação)?
Para Antonioni, essa é uma questão que se reflecte sempre, como num espelho, numa outra, mais pura e mais radical: que é, que pode ser, a entrega entre dois seres? Ou ainda: qual o sentido e, no limite, a possibilidade do amor?
Se há um grande filme, apenas um, no nosso Verão cinematográfico, é este.