Wise In Time “The Ballad Of Den The Men”
Este é talvez um dos mais surpreendentes discos da temporada e companheiro certo para noites de Verão, quando a paz contemplativa sob uma qualquer brisa às escuras, copo na mão depois de bom jantar, vencer a vontade de ir fazer a festa para outro lado. O disco é um evidente herdeiro de uma relação com a canção que Ian Simmonds já havia transformado em belíssimos discos quando gravava com os Sandals, em meados de 90. A sua seiva primordial sabe ainda a jazz, mas a forma como essa verdade interior aflora mostra tudo menos rotas definidas, formatos, ideias feitas. Wise In Time (um depoimento de sobriedade e razão em alguém que já passou a barreira dos 40) parte, de facto, de uma infusão jazzy, mas procura rotas e destinos bebendo folk, experimentando sabores de discreto sinfonismo, provando pontualmente os blues. E, tempero que vinca a diferença num músico (e produtor) com carreira habitualmente dedicada às electrónicas, mostra frequentes incursões por prazeres acústicos, dado que firma mais um ancoradoiro livre numa viagem que sabe bem viver ao sabor da deriva entre as magníficas canções, de cativante textura e conforto cool, que se escutam faixa após faixa. O álbum lembra o sentido de prazer intelectual (nunca árido nem mesmo cerebral) da música eloquente de uns Blue Nile aos dias do histórico Hats. E, apesar de não respirar a pulsão rítmica do irresistível Bodily Functions de Herbert, mostra uma semelhante capacidade em encontrar pontes de ligação entre as novas estéticas de construção musical com o legado da canção e as genéticas do jazz. Um discreto monumento para assombro… maduro.
Infadels “We Are Not The Infadels”
Mais uma banda de afinidade pós-punk… É verdade, parece que surgem como cogumelos, cada vez mais semana após semana. Mas aqui há sinais de identidade que demarcam a banda de um espaço que começa já a receber os frutos do tempo com sabor a banalidade copista (Clear Static, Forward Rússia, The Upper Room). Os Infadels têm as guitarras angulosas de finais de 70 e os temperos electrónicos (e visuais) da clássica cartilha Devo. Mas juntam a estas pistas um sentido de festa e referências rítmicas e electrónicas escutadas nos híbridos rock dançáveis de 90. Uma postura de activismo moderado, que deles não faz necessariamente comentadores pop para uma nova geração, acrescenta mais pistas de personalidade e justifica um álbum que se destaca da maré que nos ameaça afogar.
Double D Force “Enforce The Funk”
Mais um derivado nascido de terreno hip hop português a mostrar (como sucedera já com Sam The Kid ou Rocky Marsiano), que nestes desvios ao núcleo duro do meio nascem os discos mais interessantes do género (e suas periferias). Aqui há um evidente desejo em definir ambientes através de um recurso a registos que nos transportam a memórias do hip hop que Nova Iorque escutava em 1982, 83, quando as electrónicas dos Kraftwerk ou Gary Numan acabaram assimiladas por Afrika Bambataa e outros parceiros visionários. Electro, mas sob um sentido quase lo-fi, de acção directa e polimento inexistente. Texturas e linhas nascem intuitivamente e ganham forma por métodos de construção e produção onde a sofisticação dá lugar a um sentido de prazer urgente que, sendo presente, evoca claramente verdades ancestrais da memória hip hop. A esta interessante cenografia acrescentam-se discretas, mas eficazes, linhas vocais, num álbum que, sem gritar novidade, sabe todavia a uma vontade em experimentar outros terrenos e saídas. Um disco que sabe a verdade, sem cosméticos.
Muse “Black Holes And Revelations”
Os Muse, depois de um medíocre álbum de estreia no qual mais não pareciam que uns copistas pouco inspirados dos modelos que ganhavam visibilidade nos discos dos Radiohead, definiram um caminho claramente seu, optando por um rock electrónico sofisticado, no qual um sinfonismo estridente se alia a arranjos elaborados e electricidade quanto baste. Origins Of Simmetry talhou um estilo, num alinhamento onde não faltaram as canções suficientes para levar uma boa ideia da mesa dos planos às rádios, palcos e casas de quem aderiu a uma música tão feita de temperos indie quanto de ambição evidente de mais altos voos. Minimalismo e grandiosidade dialogaram e encontraram um ponto de entendimento, no qual o grupo definiu a sua linguagem. Porém, depois de criado o formato, nele acabaram fechados, repetindo-se a cada novo disco. Black Holes And Revelations não foge à regra. Abre com um portentoso tema no qual poderíamos imaginar uns Queen de meados de 70 encantados com Philip Glass. E define alinhamento em terreno “seguro”, poucos desvios face ao que nos habituaram, aproximando-se, mais que o último disco, ao template de Origins Of Simmetry, o que não é necessariamente mau! Os fãs vão gostar, Ou outros, nem por isso irão mudar de ideias.
E também: Johnny Cash, Mars Volta, Trifids (reedição), Chico Buarque
Brevemente:
10 Julho: TV On The Radio, Regina Spektor, Thom Yorke, This Heat (caixa antológica), Comsat Angels (reedições), Gaiteiros de Lisboa, The Czars, Vitalic, Sebadoh, Michael Franti, Vetiver, Danielson
17 Julho: Lisa Germano, Envelopes, Pet Sho Boys (DVD reedição), Seu Jorge (DVD), Happy Endings (BSO com Calexico, Black Heart Procession, etc)
Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Julho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, I’m From Barcelona (Agosto), Clinic (Outono), Coachella (DVD, em Julho), Sufjan Stevens (Julho)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure, Heaven 17 (reedições em Agosto), Lou Reed (reedição), Pulp (reedições em Agosto)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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