Nouvelle Vague "Band À Part"
Dois anos depois de uma estreia que projectava em clima tropical (sobretudo brasileiro) uma mão cheia de memórias pop de finais de 70 e inícios de 80, o colectivo francês Nouvelle Vague apresenta-se num segundo disco que mais não é que uma versão melhorada e revista da ideia que comandava o primeiro. Tomando por matéria prima uma mão cheia de canções de referência do universo pós-punk, revisitando nomes como os Bauhaus, Visage, Yazoo, The Sound, Buzzcocks, Generation X, Blancmange ou Echo & The Bunnymen, entre outros, os Nouvelle Vague continuam a sua aventura de transformação segundo os mesmos princípios. Domina uma linguagem acústica, as vozes femininas (os homens, de resto, aqui só contam quando os originais surgiram em vozes de mulher), uma ainda evidente tendência para cores quentes, latitudes tropicais, mas não só. Há, sem fugir aos modelos que aqui são “norma”, um gosto pela transgressão, sobretudo quando se parte de Bela Lugosi’s Dead dos Bauhaus ou The Killing Moon dos Echo & The Bunnymen e deles nascem visões de placidez não necessariamente tropical, todavia sempre a pedir cenário de fim de tarde, copo não mão, para se ouvir na perfeição. Não é uma surpresa. Não quer a revolução. Apenas fazer passar um bom pedaço de tempo em meses de Verão.
Divine Comedy “Victory For The Comic Muse”
Ninguém duvida hoje das reconhecidas capacidades autorais e performativas de Neil Hannon. De resto, a discografia dos Divine Comdey é exemplar registo de uma visão pop grandiosa, tão capaz do domínio sobre a canção como sobre a cenografia, eventualmente sinfonista, que a pode suportar. Porém, e apesar de alguns solavancos, a obra dos Divine Comedy tem caminhado num sentido cada vez mais condicionado pelas suas próprias idiossincrasias. E o novo álbum é decepcionante exemplo disso mesmo. Neil Hannon limita-se a repetir fórmulas. Mas ao contrário do que mostrou no anterior Absent Friends (onde pouco de novo e diferente realmente acontecia), o lote de canções que aqui reúne não é do mesmo calibre. Victory For The Comic Muse sabe ao mesmo, já mastigado e sem tempero. É pena.
Vários “Zero - A Martin Hanett Story”
Foi, em finais de 70, um dos co-fundadores da Factory Records, o produtor da maior parte das gravações da Joy Division e uma das figuras mais determinantes na criação de um som característico em alguns sectores do pós-punk britânico. Martin Hanett é agora evocado numa compilação que recolhe 21 temas por si produzidos, entre os quais peças históricas da Joy Division, Buzzcocks, Orchestral Manoevers In The Dark, Psychedelic Furs, New Order ou Magazine, e pérolas “perdidas” de nomes esquecidos como Slaughter And The Dogs, The Names, Wasted Youth ou Jilted John. A maioria das faixas representa a etapa pós-punk na obra de Martin Hannett, mas não faltam gravações tardias com os Kitchens Of Distinction, Happy Mondays ou World Of Twist, estes últimos numa versão de She’s A Rainbow, dos Rolling Stones, registada um ano antes da sua morte, em 1991. Perfeccionista, meticuloso, admirador das técnicas do dub, criou pelo seu trabalho um sentido de espaço na música, realidade particularmente visível no som do álbum de estreia da Joy Division, Unknown Pleasures, no qual os arranjos minimais da banda acabaram servidos por uma profunda e expressiva sensação de vazio, criada por manipulações em estúdio. À memória das canções esta compilação acrescenta longo e magnífico texto de contextualização por James Nice.
Madonna “I’m Going To Tell You A Secret”
Com o novo filme documental sobre Madonna é-nos servido um álbum... ao vivo. O primeiro de Madonna, registo de parte do alinhamento apresentado em palco e que revela, sem a “ajuda” da imagem, que um registo live de Madonna não careve de falta de emotividade apenas reduzido ao áudio. As vozes parecem, por vezes, demasiado seguras para traduzir “verdades” de palco nas quais o movimento afecta habitualmente as respirações. Mas numa era em que virtuosismos são reavaliados, a ideia mais interessante que a sua execução (valham-nos os ensinamentos do punk, mesmo estando Madonna longe de ser uma Patti Smith...), o registo áudio garante ao admirador o retrato sonoro de versões únicas, com cenografia sonora (e ainda a noção de espaço das grandes arenas), que só conheceram vida em palco. E, claro, não falta a versão emotiva do clássico Imagine, de John Lennon.
Também esta semana: Catpeople, Scritti Politti, The Zutons, Doube D Force
Brevemente:
26 Junho: Wordsong, GNR (best of com inéditos), Kudu, Moloko (best of), New York Dolls
3 Julho: Muse, Johnny Cash, Mars Volta, Regina Spektor, Trifids (reedição)
Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Muse (Julho), Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Julho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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