Como muitos velhos admiradores dos Sisters Of Mercy não deixei de ir ao Coliseu ver como soavam, 25 anos depois… Foi uma das maiores desilusões que vi em palco nos últimos tempos. A crítica foi hoje publicada no DN. Aqui fica uma versão “curta”:
A primeira ressurreição dos Bauhaus, em 1998, e a segunda, que os trouxe novamente até nós há algumas semanas, devolveram aos palcos a música intensa e a teatralidade sombria do verdadeiro rock gótico de primeira geração. Conscientes do carácter datado da sua música (e do seu peso histórico), os Bauhaus encenaram uma sólida ilusão de viagem no tempo. E vê-los, hoje, é como visitar uma galeria de peças que contam história. O mesmo não se pode dizer dos Sisters Of Mercy, que, apesar de terem representado outro dos pilares do movimento gótico, nunca gostaram do rótulo e parecem fazer o possível e o impossível para apagar essa marca do seu passado. Porém, foi pela memória de uma música (gótica) que o Coliseu encheu para os rever. E o ensopado de equívocos que serviram nem soou a novo, nem saciou memórias. As nostalgias só fazem sentido se quem as quer vender as souber aceitar e projectar com respeito por quem as paga para ver e escutar.
Os Sisters Of Mercy de 2006 só têm em comum com a banda com o mesmo nome que gravou discos marcantes entre 1983 e 87 um vocalista e um corpo de canções. Mas, mesmo ainda cava, a voz de Eldrich já não tem a força negra de outros tempos. E as canções estavam irreconhecíveis, despidas da eloquente cenografia ambiental que as caracterizava, em seu lugar habitando agora um puré de electricidade desmedida, programações ininterruptas, e... o horror... solos de guitarra! O guitarrista que hoje toca na banda não esconde que preferia estar num grupo de hard rock. Inenarrável.
Publicado no DN a 7 de Abril de 2006