sexta-feira, fevereiro 03, 2006

"Munique": a violência

O tema da "violência" é uma das maiores (e mais cínicas) armadilhas ideológicas que as televisões instalaram no nosso quotidiano. Não porque não haja violência no nosso presente — há, e de muitas formas. Antes porque quase sempre nos querem fazer crer que é possível "escolhermos" um lugar exterior à violência, desse modo olhando o mundo acima das suas próprias convulsões — no seu limite mais simplista, as televisões confortam-nos a boa consciência, garantindo-nos que a violência é sempre dos outros. Munique é um filme dentro do qual não é possível traçar uma linha segura e definitiva entre as "boas" e as "más" formas de violência. Daí a sua assumida frieza: não se trata de uma narrativa gratificante porque, em última instância, o que nele se diz/mostra é que não há gratificação possível face à crueza humana de qualquer forma de violência. Não é um programa eleitoral, não anda à caça de votos — é apenas um filme desesperado e que faz do desespero a sua razão mais funda e mais comovente.

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