segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Discos da semana, 27 de Fevereiro

Cindy Kat “Cindy Kat”
A edição do álbum de estreia dos Cindy Kat representa a primeira grande novidade pop essencialmente cantada em língua portuguesa que chega a disco de há longos meses a esta parte. O disco parte de uma ideia de viagem (que se imagina com travo a ficção científica, dadas as referências a Philip K. Dick e a episódios de Espaço 1999), em tempos pensada como sequência de quadros instrumentais, mas entretanto transformada num interessante híbrido que cruza ecos dessas intenções iniciais com um corpo de canções pop. O disco não perdeu todavia a sua identidade viajante, percorrendo sugestões, visões, e tempos que a memória identifica sobretudo em arquivos de 80, quer através do tipo de sons usados (velhos e saborosos teclados analógicos vintage ou registos de guitarra que convocam escolas dos dias de glória dos Durutti Column ou Teardrop Explodes) e, sobretudo, pela presença protagonista da voz de Pedro Oliveira, que necessariamente abre, tranquila e justamente, portas de contacto com a herança superlativa da Sétima Legião. Esta viagem ora é promovida em patamares de liberdade abstracta, através de teias instrumentais, como é conduzida pelas palavras de canções nas quais Pedro Oliveira partilha o espaço com JP Simões, Pedro Abrunhosa, Sam e Gomo. E há aqui grandes canções, sobretudo as que se materializam na voz de Pedro Oliveira, como Polaroide, Substância D ou Glória (assombrosa nova leitura do single de estreia da Sétima Legião). Miúdo, por JP Simões, é outro dos grandes momentos do disco. Abrunhosa soa bem em A Saída. Gomo é inconsequente em Distância. Mas Sam, cujas canções metralham intensidade rítmica que destoa com a envolvente, parece deslocado.

David Bowie “Serious Moonlight EP”
Meses volvidos sobre uma primeira edição em exclusivo para o iTunes, David Bowie volta a insistir no formato e edita um EP com temas gravados durante a Serious Moonlight Tour, de 1983. Apesar de ser evidente que se trata de uma manobra promocional que procura captar atenções para a edição do DVD Serious Moonlight, a lançar na próxima semana, o EP tem o seu valor histórico, já que representa a primeira edição oficial, em disco, de registos de palco de Bowie nos dias de 80. Como é característica nas suas digressões, os caminhos que percorre nesse tempo acabam por interferir sobre a leitura dos velhos clássicos, o que explica a adaptação anos 80 de Space Oddity. Já Breaking Glass, do visionário Low, parece mais actual que nunca, talvez mais insistente nas guitarras que a versão original.

We Are Scientists “With Love And Squalour”
Originalmente lançado no ano passado, chega até nós só agora o álbum de estreia dos norte-americanos We Are Scientists que, apesar de naturais de Los Angeles, são hoje banda residente em Brooklyn (Nova Iorque). E o entusiasmo pós-punk que cruza alguns dos novos grupos que nos têm chegado dessas latitudes está aqui bem visível. Wire, The Jam, Gang Of Four, parecem cartilha de consulta recorrente numa banda que junta a esta escola brit de finais de 70 traços de contaminação americana via Devo e que partilha ainda afinidades com as memórias mais recentes de uns Pixies ou The Smiths e não esconde ter pilhado algumas ideias aos Franz Ferdinand (porém, convenhamos, sem a mesma capacidade em transformar as mesmas sugestões em grandes canções), apesar de parecerem mais próximos de uns The Rakes. Uma estreia mediana, apenas com uma ou outra canção digna de registo, e nenhuma a superar o single Nobody Moves, Nobody Gets Hurt… Esperava-se muito melhor...

Eels “Eels With Strings”
Um dos mais interessantes autores da geração de 90, E assinalou os dez anos de vida dos Eeels com uma série de espectáculos, com uma banda que incluía a presença de um quarteto de cordas, durante o ano passado, um dos quais no mítico Town Hall. Esse mesmo concerto vê a luz do dia numa edição em CD e DVD que traduz a face mais delicada e introspectiva de uma escrita pessoal e sofrida, exorcista de episódios difíceis, catártica psicoterapia para música e letra de invulgar poder de sedução. O disco traduz um serão de melancolias e dores de alma na forma de magníficas canções onde a aparente carnalidade de uma voz magoada flutua sobre delicadas teias para cordas, teclas minuciosas e discretas texturas. Magnífico!

Também esta semana: Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD), Kooks, 12”/80s Dance

6 Março: Sylvain Chauveau, Death From Above 1979, Scritti Politti, Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case, Jacinta, Van Morrisson, Teddy Thompson (reedição), Wire (reedições dos três primeiros álbuns), Pinkboy Presents TPC, A Naifa
13 Março: David Bowie (DVD), The Trip (compilação criada por Jarvis Cocker), Gary Numan, Donald Fagen, Graham Coxon, Fugees, She Wants Revenge, Moby (DVD)
20 Março: Morrissey, Placebo, Beach Boys (Pet Sounds, edição dos 40 anos), Quantic, João Afonso, X Wife

Março: Monsieur Gainsbourg (tributo), White Rose Movement, Protocol, Scritti Politti, Japan (best of + DVD), Spiritualized, Madonna (DVD), Clear Static, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD), Yeah Yeah Yeahs
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure, PJ Harvey


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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