Susumu Yokota “Symbol”
Há quem lhe chame o Walter Carlos da geração do cut and paste. Sem tomar a definição à letra, podemos partir dessa ideia para, no músico japonês, encontrar um dos mais estimulantes criadores de pontes entre a memória e a um presente que olha em frente. Depois de uma primeira etapa electrónica mais canónica, a sua obra recente revela a descoberta e assimilação de uma lógica minimalista (escolas Glass, Reich e Riley) e um plácido entendimento com os ensinamentos de Brian Eno. Symbol, o seu magistral novo álbum, é um pequeno jardim japonês onde Yokota organiza pequenos pedaços tirados de peças de Cage, Bizet, Mahler, Tchaikovsky, Saint Saëns, Debussy, Meredith Monk, Schumann, Beethoven, entre tantos mais, integradas numa matriz electrónica discreta mas estruturalmente determinante. Os sabores melódicos são procurados na história da música, cabendo ao músico a arte de os escolher, samplar, sequenciar e transformar em depoimento pessoal. Symbol é um espantoso momento de corte e colagem de peças de vários tempos e autores, integradas num contexto de electrónica micrométrica e ambiental, sob a batuta de um japonês maestro de… computadores. Desde o romance entre os Art of Noise e Debussy (em 1999) não se assistia a tão fluente diálogo entre os mundos da clássica e da pop. Mundos não estanques, é certo, mas tão frequentemente afastados entre si por tola vontade própria, ou apenas desconhecimento um do outro. Os puristas vão ficar horrorizados.
Faris Nourallah “Near The Sun”
Natural do Michigan, Faris Nourallah (hoje a caminho dos 40 anos) é ainda uma pérola a descobrir no vasto – e, convenhamos, ainda pouco conhecido – espaço da nova canção contemporânea americana. Na adolescência passou pelos incontornáveis da sua geração (Clash, Costello), mas a evolução do gosto pop levou-o no sentido de uns Beatles e, mais ainda, Ray Davies. A sua discreta discografia conta, até agora, com um álbum editado como Nourallah Brothers e três outros gravados a solo, todos eles através da pequena independente Western Vinyl. Agora, a poucos meses da edição de um quarto álbum de originais em nome próprio, esta compilação serve de convidativo cartão de visita a uma obra que vale a pena conhecer. Faris não só herdou traços da escrita pop de Davies e Lennon, como a elas junta uma alma sensível capaz de traduzir as idiossincrasias do seu espaço cultural (quase na linha de um Sufjan Stevens) e, aqui e ali, um desejo malandro em encenar com grandiosidade e eloquência algumas das canções. Depois de Richard Swift, mais um cantautor a acrescentar à lista das grandes descobertas do ano.
The Weatherman “Crusin’ Alaska”
Apesar da quase discreta entrada em cena (um pouco de luzes bem acesas e palavras bem lançadas não fazem mal a ninguém), eis que se aplaude o primeiro bom disco pop português em largos meses. Este é o projecto individual de Alexandre Monteiro, um espírito claramente influenciado pelas boas memórias de uns Beatles, uns Beach Boys (bem evidentes), uns Kinks, que neste seu álbum promove encontros bem emoldurados entre essa clássica pop de finais de 60, travos folk e traços de contemporaneidade que se pincelam nas artes finais, via discretas electrónicas (por vezes em sintonia com híbridos pop e dança de inícios de 90) ou através do modo como concilia os jogos de formas que convoca. É um álbum que nasceu solitário, num quarto, mas que não esconde um desejo em comunicar. Melancólico na matriz, mas luminoso no final. Pode não esmagar pela novidade. Pode lembrar mil e uma coisas que já escutámos. Mas não deixa de ser um conjunto de belas canções pop. E, para já, não se lhe pede mais…
Talking Heads “Talking Heads: 77”, “More Songs About Buildings And Food”, “Fear Of Music”, “Remain In Light” e “Speaking In Tongues”
Estes são os primeiros cinco volumes de uma nova campanha de reedições da integral dos Talking Heads. Os discos surgem em formato duplo, o primeiro dos quais apresentando o álbum original, som remasterizado, e com extras (sobretudo gravações ao vivo ainda inéditas, raridades e lados B), o segundo sendo um DVD com o disco em áudio 5.1 e pequenas faixas vídeo (maioritariamente momentos de concertos). O conjunto permite-nos não só reconhecer que, apesar da génese no palco mais iluminado do punk nova-iorquino, o grupo cedo tomou um rumo pessoal e distinto, assim como acompanhar a etapa determinante que viveram sob o auxílio de Brian Eno, que lhes deu vitaminas na concepção rítmica e na forma de explorar o som.
Também esta semana: Larry Levan, Los Lobos, Paul Weller (best of), Tears For Fears (reedição), The Tommy Boy Story (compilação), Erasure, Faris Nourallah, The Television Personalities, Celebration
20 Fevereiro: Eels (ao vivo + DVD), The Architects, Wonderstuff, Anouk, 12”/80s Dance, Jacinta, Liars, David Bowie (live EP), Beth Orton, Bell Orchestre
27 Fevereiro: Cindy Kat, X-Wife, 4Ahero, We Are Scientists, Elvis Costello, Burt Bacharah, Chico Buarque (DVD), Kooks
6 Março: White Rose Movement, Death From Above 1979, Scritti Politti, Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case
Março: White Rose Movement, Protocol, Spiritualized, Mogwai, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Clear Static, Placebo, Massive Attack (compilação + DVD), Outkast, Graham Coxon, She Wants Revenge, Maximo Park (lados B), The Organ (reedição), The Rakes, Scissor Sisters (data a confirmar), Tributo aos GNR, Gorillaz (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Madonna (DVD)
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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