segunda-feira, janeiro 02, 2006

Discos da semana, 2 de Janeiro

The Strokes “First Impressions Of Earth”
N.G.: Em 2001 o álbum de estreia, Is This It? foi inesperado motor de revolução, abrindo não só janelas de comunicação com o sentido de urgência e o melodismo rápido e eficaz de quase esquecidas heranças do punk primordial de meados de 70, como funcionou como porta de entrada para toda uma nova geração de bandas rock’n’roll num mundo que parecia mais apontado a outros azimutes musicais. Depois de um segundo disco, de manutenção, em 2003 (o que não foi necessariamente mau, antes pelo contrário), os Strokes só agora mostram por que rumos querem continuar a trilhar o seu caminho. Eleitos justa referência por toda uma nova geração de bandas e melómanos (reactivando igualmente velhos entusiasmos em públicos que viveram os acontecimentos punk e pós-punk na época), os Strokes procuram neste terceiro álbum uma identidade mais próxima dos espaços rock alternativo que do caldeirão punk de cujas heranças se escreveu a sua certidão de nascimento. Com um produtor ligado a fenómenos da new wave americana de 80, encontraram um som mais variado, claramente mais elaborado (e ambicioso), em canções nas quais mostram horizontes mais largos, não necessariamente todos eles igualmente bem visitados. O álbum abre em alta, com o fabuloso You Only Live Once e o já conhecido Juicebox, single de estreia. E atinge o clímax da surpresa no genial Ask Me Anything, onde a voz de Casablancas não tem mais companhia que a de um mellotron, numa canção que quase nos faz pensar que estamos a escutar os Magnetic Fields… E devia acabar, logo a seguir, no encontro entre guitarras e discretas teclas new wave em Electrocityscape ou, duas faixas adiante, no ainda viciante Fear Of Sleep. Mas, contra a lógica do pouco-e-bom dos dois primeiros álbuns, os Strokes encheram o alinhamento do novo disco com canções de segunda linha, sobras que esticam a minutagem a 57 minutos, sendo evidente que a sequência final do disco não está à altura da sua abertura. Percebe-se que, depois de marcar a história, procuram agora alargar a base de admiradores. Ainda mostram uma escrita entusiasmante, um ataque enérgico às notas, uma vontade de respirar energias primordiais do rock’n’roll e canções suficientes para garantir a satisfação do ouvinte. Mas não estão, neste disco, no patamar de um Is This It?. Nem mesmo de um Room On Fire.

World Leader Pretend “Punches”
N.G.: Alguns dos albums “esquecidos” de 2005 acabam por ser descobertos a tempo e horas nos primeiros dias de 2006. Eis um caso, que deveria ter merecido outra atenção, caso tivesse sido distribuído entre nós (até porque é editado pela Warner, que tem representação entre nós, mas hoje mais virada para outras prioridades). Vêm de New Orleans, mostram sinais evidentes de veneração por bandas como os Echo & The Bunnymen, Radiohead e R.E.M. e praticam um rock estimulante, feito de grandes acontecimentos e sensações, arranjos pungentes, ideias desafiantes. Depois da eleição quase unânime dos Arcade Fire, os World Leader Pretend (que não mimetizam em nada os canadianos, sublinhe-se) têm tudo para conquistar novas plateias de admiradores. Punches é um álbum de prazer superior, um mundo de canções contagiantes onde arranjos para cordas e piano são tempero que faz a diferença e confere grandiosidade que ora visita o épico (como em Bang Theory), ora compõe discretas paisagens para subtis texturas e belas melodias (como no superior Love Davey). Uma pérola por descobrir.

Balkan Beat Box “Balkan Beat Box”
N.G.: Há toda uma história de relacionamento dos públicos ocidentais com temperos exóticos ao longo da história. A música de dança, em particular, albergou algumas das manifestações dos últimos anos, dos ethno beats de uma Ofra Haza em 87 ao caril dançável de uns Transglobal Undreground de 90, não esquecendo o tango chill out do mais recente Gotan Project, entre inúmeras outras manifestações do género. A mais recente ideia de dança com todos vem de Nova Iorque, aponta ponto de partida à eufórica energia e melodismo contagiante de algumas musicologias balcânicas, cruza-as com aromas colhidos à volta do Mediterrâneo (Israel, Palestina, Marrocos e Espanha) e usa electrónicas como fio condutor. Com um saxofonista e um percussionista com conhecimentos profundos destas músicas no núcleo creativo, uma ideia de ecumenismo cultural mediterrânico e uma evidente mensagem subliminar de paz e entendimento entre povos em conflito (transcendendo pela música debates políticos até aqui frustrados), o projecto é uma interessante manifestação de projecção da world music em espaços de diálogo com outras músicas. Um potencial motor de farra. E um disco agradável de ouvir. Mas não muito mais que isso.

Brevemente:
9 Janeiro: Chet Baker, Richard Swift, Jens Leckman, John Coltrane
16 Janeiro: Pop Dell’Arte (best of), Blue Aeroplanes (reedição), Regina Spektor, Ride (reedição), Talking Heads (reedição)
23 Janeiro: Aldina Duarte, Beck, Broken Social Scene, Cat Power, Clap Your Hands say Yeah, Richard Ashcroft, Stereo MC’s (DVD), X-Wife, Heaven 17
30 Janeiro: Arctic Monkeys, Coldcut, Devine & Statton (reedição), Isobel Campbell + Mark Lanegan, Johnny Cash (reedições), Royksopp (ao vivo), The Doors (ao vivo), BSO Walk The Line, Jacinta

Fevereiro: 4Hero, Arab Strap, Belle & Sebastian, Jane’s Addiction, Moby (ao vivo), Pharrell Williams, Sparks, White Rose Movement, Madonna (DVD), Eels (ao vivo), Elvis Costello, homenagem aos GNR, Burt Bacharah, Wonderstuff, We Are Scientists (ed. nacional)
Março: Death From Above 1979, Spiritualized, Mogwai, Scritti Politti, Madonna (DVD), Morrissey, Beach Boys (reedição), Placebo, David Bowie (DVD), Charlatans, Mudhoney, Nick Cave (BSO), Neko Case
Abril: British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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