O filme Alice, de Marco Martins, pode não ser uma maravilha. Pelo contrário, é um filme repleto de equívocos (entre os quais muitas inverosimilhanças e ainda aquele velho hábito de, em dia de vincar a desgraça da vida da personagem, em vez de aprumar um ou outro contorno dramático, uma ou outra linha de discurso, resolve tudo com muita chuva para cima do actor!)... Mas Alice tem os seus argumentos favoráveis, nomeadamente um eficaz acompanhamento de marketing e uma série de feitos evidentes na maioria dos departamentos técnicos e alguns artísticos. Boa história (embora mal resolvida). Boa fotografia. Bons enquadramentos. Boa actuação (apesar de um ou outro episódio de exagero evitável) de Nuno Lopes. Belo som. E, o melhor de tudo, uma espantosa banda sonora. Bernardo Sassetti, que no recentemente editado Ascent incluiu peças da banda sonora de A Costa dos Murmúrios, de Margarida Cardoso, faz aqui o seu melhor trabalho de sempre para o cinema. Prova, mais uma, de que pode haver pontes com valor acrescentado entre quem faz música e cinema em Portugal. Mas não há disco em vista... Como é possível? Com 13 mil espectadores acumulados na semana passada, a caminho dos 20 mil esta semana, não há editora discográfica que se aperceba do potencial que aqui tem em mãos? É popular. E bom. Quantas vezes estes dois fazem um par assim ordenado?
Um leitor, Zé Luís, entretanto, não concordou com algumas apreciações deste post ao filme. E acrescenta: "o realizador decidiu-se pela acção fechada e isso magoa quem vê o filme, não porque não seja a melhor solução mas porque reforça a impotência do pai que finalmente desiste para não perder do que lhe resta e a esperança de um regresso a uma vida normal. não há pudor em ferir, em perturbar, em mostrar a humanidade da perda, da solidão."
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