Já havia páginas sobre música nos jornais de referência, publicações especializadas sobre fado e até revistas de espectáculos (juntando palcos populares e vedetas da rádio). Mas só na recta final de 60 se desenharam as primeiras formas de um novo jornalismo musical em Portugal, com o jornal Memória de Elefante e a revista Mundo da Canção. Esta última foi a mais importante fonte de noticiário, opinião e entrevistas que a música portuguesa conheceu nos anos 70, acompanhada depois pela Música & Som, que entra mais tarde em cena. A Mundo da Canção foi editada, com regularidade, entre 1969 e 1985 e a sua colecção de 68 números constitui um legado fundamental do jornalismo musical português. E é uma das melhores fontes para a redescoberta da forma como se impuseram entre nós alguns dos primeiros nomes do rock português e as figuras de grande destaque de 70, de Sérgio Godinho a José Mário Branco, de José Afonso a Fausto, de Carlos Paredes a Júlio Pereira, de Luís Cília a Adriano Correia de Oliveira, entre outros protagonistas desta história.
A colecção integral da Mundo da Canção pode ser adquirida na belíssima loja que a MC – Mundo da Canção tem no Picoas Plaza, em Lisboa. Preço acessível. E um panorama bem interessante de uma etapa determinante na construção de uma ideia de modernidade na música portuguesa. Não faltando, claro, os tempos quentes da canção política de 1974 a 76.
Neste post publicamos a capa do número um, de Dezembro de 1969. Nessa altura a revista era ainda, essencialmente, dedicada à publicação de letras de canções (só mais tarde se avançou por terrenos de jornalismo). Aqui estão as letras de canções de Gilberto Gil, Adamo, Padre Fanhais, Luís Cília, Beatles, José Afonso, Rolling Stones, Paxi Andion, Álamos, Bee Gees, The Archies, Johnny Halliday, Manuel Freire, Chico Buarque, Charles Aznavour… Aberto a vários estilos, e já com uma posição evidente junto dos cantores “incómodos”. Há pequenas notícias sobre Carlos do Carmo, Júlio Iglésias (ainda referido como o ex-guarda redes do Real Madrid que virou cantor), José Afonso. E muita publicidade, no mais delicioso registo “português suave” da época.
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