Ralph Fiennes é, seguramente, um dos maiores actores contemporâneos. Lembremos apenas três composições históricas:
— o comandante nazi em A Lista de Schlinder (1993), de Steven Spielberg, um mergulho perturbante na mente — e no labirinto do desejo — de um homem em que a ilusão de grandeza se confunde com a mais brutal degradação;
— o intelectual seduzido pelas máscaras da televisão, em Quiz Show (1994), de Robert Redford, seguramente um dos mais fabulosos filmes que já se fizeram sobre a sedução e as imposturas televisivas;
— o herói «ausente» de Spider (2002), uma assombrosa travessia da loucura assinada por David Cronenberg, sempre lado a lado com a mais banal e inquietante familiaridade.
Fiennes está de volta no papel central de O Fiel Jardineiro — que era já o título do romance de John Le Carré em que o filme de Fernando Meirelles se baseia. O mínimo que se pode dizer é que estamos perante um espantoso exercício narrativo em que uma complexa intriga política — em cenários africanos devastados pela miséria e pela doença — evolui sempre através de uma radical história de amor: a de um diplomata (Fiennes) e da sua mulher (a também magnífica Rachel Weisz), falecida em circunstâncias misteriosas.
Fernando Meirelles consegue, acima de tudo, uma coerência estética que tanto lhe faltava no populismo bem intencionado de Cidade de Deus (2002). Que é como quem diz: sustentar um registo quase-documental em que os contrastes formais nascem das diferenças das cenas e dos lugares, não de qualquer exibicionismo de uma câmara «virtuosa». Componente fundamental da estrutura dramática do filme é a música de Alberto Iglesias, colaborador regular de Pedro Almodóvar e autor da banda sonora de Tierra (1996), de Julio Medem, um belo filme espanhol infelizmente inédito entre nós — será que o CD de O Fiel Jardineiro (EMI, no mercado britânico) vai ter edição portuguesa?
— o comandante nazi em A Lista de Schlinder (1993), de Steven Spielberg, um mergulho perturbante na mente — e no labirinto do desejo — de um homem em que a ilusão de grandeza se confunde com a mais brutal degradação;
— o intelectual seduzido pelas máscaras da televisão, em Quiz Show (1994), de Robert Redford, seguramente um dos mais fabulosos filmes que já se fizeram sobre a sedução e as imposturas televisivas;
— o herói «ausente» de Spider (2002), uma assombrosa travessia da loucura assinada por David Cronenberg, sempre lado a lado com a mais banal e inquietante familiaridade.
Fiennes está de volta no papel central de O Fiel Jardineiro — que era já o título do romance de John Le Carré em que o filme de Fernando Meirelles se baseia. O mínimo que se pode dizer é que estamos perante um espantoso exercício narrativo em que uma complexa intriga política — em cenários africanos devastados pela miséria e pela doença — evolui sempre através de uma radical história de amor: a de um diplomata (Fiennes) e da sua mulher (a também magnífica Rachel Weisz), falecida em circunstâncias misteriosas.
Fernando Meirelles consegue, acima de tudo, uma coerência estética que tanto lhe faltava no populismo bem intencionado de Cidade de Deus (2002). Que é como quem diz: sustentar um registo quase-documental em que os contrastes formais nascem das diferenças das cenas e dos lugares, não de qualquer exibicionismo de uma câmara «virtuosa». Componente fundamental da estrutura dramática do filme é a música de Alberto Iglesias, colaborador regular de Pedro Almodóvar e autor da banda sonora de Tierra (1996), de Julio Medem, um belo filme espanhol infelizmente inédito entre nós — será que o CD de O Fiel Jardineiro (EMI, no mercado britânico) vai ter edição portuguesa?
* O Fiel Jardineiro, de John Le Carré, existe em tradução portuguesa com a chancela da editora Dom Quixote.
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