A mais recente edição da Ficções, revista de contos dirigida por Luísa Costa Gomes e editada pela Tinta Permanente, é dedicada ao cinema. À semelhança de outros números temáticos, como aqueles que tiveram como tema as férias, a gastronomia, o humor, os bichos e a guerra, este número intitula-se Ficções de filmes e apresenta-nos sete contos de autores bem conhecidos e prestigiados. À excepção de Ingmar Bergman, reconhecido sobretudo pela sua obra cinematográfica, todos os autores dos contos que constam deste volume são eminentes figuras do mundo literário. A revista abre com um conto de Gérard de Nerval, intitulado Pandora (traduzido por João Nuno Martins), onde o “hipersensível” e “alucinado” escritor, conhecido pelo seu mundo altamente interiorizado, “persegue o mito da mulher fatal”. Segue-se Dostoievski que, em Submissa (traduzido por António Pescada), nos apresenta o relato dos pensamentos algo desconexos e fragmentários de um homem diante do corpo da mulher suicidada. A literatura norte-americana está representada por três nomes de peso, dois deles parte já da memória literária, Hemingway e F. Scott Fitzgerald, e o outro um contemporâneo, Paul Auster. De Hemingway temos Os Assassinos (traduzido por Alexandre Pinheiro Torres), duas vezes adaptado ao cinema (por Robert Siodmark, em 1946, e Don Siegel, em 1964). Scott Fitzgerald surge com Babilónia Revisitada (traduzido por José Lima), conto que serviu de base ao argumento do filme A Última Vez Que Vi Paris (1954), realizado por Richard Brooks. Do autor de A Trilogia de Nova Iorque temos um dos seus raríssimos contos, uma encomenda do New York Times por alturas do Natal de 1990, intitulado A História de Natal de Auggie Wren (traduzido por Luísa Costa Gomes). Para além do conto de Bergman, A Paixão (traduzido por Inga Gullander), escrito como se fosse uma pequena peça de teatro, há ainda uma espécie de conto-sinopse de um filme imaginado por Jorge Luis Borges, intitulado Tema do Traidor e do Herói (traduzido por José Colaço Barreiros). Todos estes contos serviram de inspiração, ponto de partida ou quase guião para longas-metragens. Nuno Carvalho
Este post assinala a estreia do Nuno Carvalho no Sound + Vision. Seja bem vindo!
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