Kate Bush “Aerial”
N.G.: Em silêncio desde o já remoto (e pouco entusiasmante) The Red Shoes (1993), Kate Bush regressa aos discos com um álbum que está a dividir opiniões. Há quem não goste. Mas também quem nele reconheça um feito musical capaz de se inscrever junto aos clássicos The Kick Inside (1978) e Hounds Of Love (1985) como um dos melhores discos da sua carreira. Mais próximo desta segunda tese que da primeira, reconheço que Aerial é mais um disco capaz de sublinhar uma tendência que o ano tem verificado junto de veteranos, que regressam com discos do melhor calibre. Aconteceu com Brian Eno, com Paul McCartney, com os Rolling Stones e Depeche Mode. E, agora, Kate Bush. Aerial é um disco atípico dos tempos que correm. É um espaço de paz e introspecção, de músicas subtis e elaboradas, que a cantora divide em duas peças distintas (o álbum é duplo). No CD1 encontramos, sob o sub-título A Sea Of Honey, canções Kate Bush vintage. Canções feitas de requintes instrumentais, ora progressivas ora reduzidas ao diálogo para voz e piano, pontual incursão renascentista pelo meio. Não falta o single perfeito em King Of The Mountain, e segunda pérola pop ambiental a descobrir em Joani. No CD2, ou A Sky Of Honey, descobrimos um percurso conceptual que evoca o brilhante From Gardens Where We Feel Secure, de Virginia Astley. Entre um anoitecer e uma alvorada, sons ambientais, instrumentos e voz tecem um devaneio para os sentidos, quase em jeito de ritual pagão. Os Pink Floyd são aqui referência evidente, num espaço onde mora sobretudo uma ideia de liberdade formal. Valeu a pena esperar 12 anos por um disco assim.
Human League “Original Remixes And Rarities”
N.G.: Ao mesmo tempo que chega ao mercado uma reedição remasterizada de Hysteria (1984) e um álbum ao vivo (Live At The Dome), os Human League editam uma compilação atípica, diferente da lógica do tradicional “o melhor de”, reunindo versões longas, faixas raras, lados B e remisturas originais, editadas entre 1980 e 1990. O disco recupera, sem ser exaustivo na recolha, parte do catálogo dos 45 rotações editados nos anos 80. Além de interessantes versões máxi, servem-se pequenas pérolas esquecidas em lados B, do dançável Hard Times (uma espécie de variação ritmicamente insistente sobre Love Action), ao viciante electro’n’roll de Non Stop. Por seu lado, o menor You Remind Me Of Gold, lado B de Mirror Man, vinca o desnorte que se seguiu a Dare! E Total Panic, primeiros sinais de um flirt electro funk que se materializaria mais tarde em Crash.
DK7 “Disarmed”
N.G: O sueco Jasper Dählback, nome já veterano da cena electrónica local, chamou novamente a colaboração do irlandês Mark O’Sullivan para um projecto que nasceu apontado à pista de dança mas acabou transformado numa interessante investigação sobre o formato canção. Das pistas acid house na génese do projecto, a dupla DK7 evoluiu rumo a terrenos distantes, de electro à electropop (escola Depeche Mode) e mesmo algum travo rock, construindo um álbum de canções dominadas por uma alma sombria, onde todavia raios de esperança deixam entrar frestas de luz. Para dançar, sim, mas em noite de escape não alienado do mundo, e de quem vive, atento, os seus problemas.
David Bowie “Platinum Collection”
N.G.: Triplo CD, esta antologia recorda, em 57 canções, os trilhos fundamentais da obra de Bowie entre 1969 e 1987. Ignora os primeiros tempos (1962-68) e o que se sucedeu desde o álbum Never Let Me Down, mas consegue o mais completo retrato de uma era rica em acontecimentos na sua obra, com selecção mais completa que a maioria dos best of no mercado, e com preço menos doloroso que a caixa Sound And Vision. Na verdade, a Platinum Collection reúne numa mesma caixa duas compilações já antes editadas (uma a revistar o período 1969-74, a outra completando o retrato até 1979) e um terceiro disco, que conta o que se passou entre 1980 e 87. Neste terceiro CD não faltam os êxitos óbvios, as colaborações, as canções para o cinema e mesmo um tema do raro e esquecido EP Baal, de 1982.
Beastie Boys “Solid Gold Hits”
N.G.: Ninguém duvida da importância dos Beastie Boys na história do hip hop, sobretudo por mostrarem caminhos de relacionamento com outras formas e géneros. A compilação agora editada servirá talvez para servir um retrato rápido a iniciados. Relativamente à antologia The Sounds Of Science, de 1999 acrescenta temas do histórico Licence To Ill, mas não é tão completa, apesar de igualmente representativa da obra do grupo. Uma edição especial inclui um DVD com todos os telediscos.
Rogue Wave “Descended Like Vultures”
N.G.: Em menos de um ano os Rogue Wave editam dois belíssimos álbuns de canções pop. Neste segundo disco tentam, todavia, um passo adiante da petição de princípios que era o elegante Out Of The Shadow. As canções nascem da mesma fonte, plenas de referências clássicas nas entrelinhas, mas desta feita respiram uma eloquência instrumental mais evidente, trabalhadas com mais instrumentos e evidente desejo de ir mais longe… Mais uma vez satisfazem e mostram como há ainda beleza a descobrir nas coisas simples, mesmo se maquilhadas com um pouco mais de som.
Giles Peterson “The BBC Sessions”
N.G.: Muitas vezes ainda o reconhecemos como o selectivo editor que, através da Talkin’ Loud revelou algumas das mais estimulantes manobras de devolução do jazz às linguagens populares (do hip hop à soul) na primeira metade de 90, não fechando aqui todas as demandas dessa importante etiqueta que, como poucas, necessitava apenas de exibir o selo para garantir que cada novo disco boa música trazia em si. Peterson é também, há muito, um DJ e radialista. E este disco mais não faz que juntar algumas sessões por si gravadas na BBC com nomes à partida em si esperados, como The Roots, Common, N.E.R.D, Matthew Herbert ou Zero 7; visões que sublinham a renovada atenção, como Spektrum, Fat Freddy’s Drop ou Rosin Murphy e surpresas (ou nem por isso), como Björk ou Beck.
Patti Smith “Horses (Legacy Edition)”
N.G.: A assinalar os 30 anos do primeiro álbum editado por um nome ligado ao emergente movimento que nascia então no Lower East Side nova iorquino, CBGB’s como palco primordial, eis uma edição especial de Horses. No CD1 serve-se o álbum como o conhecemos. No segundo disco, uma leitura recente, gravada ao vivo já este ano, em Londres, de todas as faixas do álbum. Com textos por complemento, um deles um ensaio de Lester Bangs publicado em 1975 na Cream.
Também esta semana: Live 8 (DVD), Luomo (reedição), Gang Gang Dance, Duran Duran (DVD + CD ao vivo), God Is An Astronaut, Clientele, John Lennon (reedições de Walls & Bridges e Some Time In New York)
Brevemente
14 Novembro: Moby (DVD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa de 9 CD e 2 DVD), A-ha, Franz Ferdinand (DVD), Nick Cave + Warren Ellis (banda sonora), Eurythmics (best of e discografia remastreizada), ABC (discografia remasterizada e best of + DVD), Babdyshambles, The Killers (Hot Fuss CD + DVD), Bruce Springsteen (Born To Run, 30th Anniversary Edition), Eurythmics (caixa), Wilco (ao vivo), U2 (DVD)
21 Nvembro: Rolling Stones (Rarities 1971-2003 e A Bigger bang CD + DVD), Queen (A Night At The Opera, ed. 30 anos), Maria Teresa de Noronha (caixa), Pedro Abrunhosa (DVD),
Novembro: Kaiser Chiefs (DVD), Teresa Salgueiro, Fire Engines, John Zorn Electric Masada, Caribou (DVD), Rufus Wainwright (Want 1 + 2), The Mood Elevator, Sam Shinazzi, Nine Inch Nails (reedição de Pretty Hate Machine) Dezembro: Da Weasel (ao vivo), John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single), Outkast, Pharell Williams, Kraftwerk (DVD), Pink Floyd (DVD)
Sem data: GNR (tributo com bandas hip hop e r&B), Camané (DVD), Madredeus (DVD), Amália Rodrigues (3CD antologia), John Lydon (CD + DVD)
Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur, Sparks, Every Move A Picture, White Rose Movement, Pop Dell’Arte (best of)
As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.
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