Que vemos, afinal, neste mundo de tantas imagens? Quando começa a noite televisiva das Eleições Autárquicas de 9 de Outubro, o que vemos são, sobretudo, pessoas que olham televisores, caixas dentro de caixas — um labirinto mágico que abandonou a magia e se decompõe no seu militante narcisismo.
Nos estúdios, os jornalistas remetem-nos para outros ecrãs e os comentadores, zelosos, comentam o que chega desses mesmos ecrãs. Nas sedes e locais de reunião dos partidos, os repórteres aparecem no meio de militantes que, também eles, olham ecrãs, porventura contemplando a sua própria imagem, num jogo de espelhos cujo vazio é uma forma eufórica de delírio.
O mundo televisivo — e todos lhe pertencemos — perdeu a ironia de Magritte que, em 1937, pintava assim esse outro delírio de procurarmos confirmar a coerência da nossa imagem. Era, à sua maneira, uma crítica premonitória da galáxia televisiva que estava por nascer. Chama-se o quadro A Reprodução Interdita, coisa que, hoje em dia, ninguém parece querer: reproduz-se «tudo», entrámos na idade em que se acredita que é possível mostrar tudo, ver tudo, tornar tudo visível. Pobres de nós.
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Nos estúdios, os jornalistas remetem-nos para outros ecrãs e os comentadores, zelosos, comentam o que chega desses mesmos ecrãs. Nas sedes e locais de reunião dos partidos, os repórteres aparecem no meio de militantes que, também eles, olham ecrãs, porventura contemplando a sua própria imagem, num jogo de espelhos cujo vazio é uma forma eufórica de delírio.
O mundo televisivo — e todos lhe pertencemos — perdeu a ironia de Magritte que, em 1937, pintava assim esse outro delírio de procurarmos confirmar a coerência da nossa imagem. Era, à sua maneira, uma crítica premonitória da galáxia televisiva que estava por nascer. Chama-se o quadro A Reprodução Interdita, coisa que, hoje em dia, ninguém parece querer: reproduz-se «tudo», entrámos na idade em que se acredita que é possível mostrar tudo, ver tudo, tornar tudo visível. Pobres de nós.