A agitação que o East Village nova-iorquino vivia em finais de 70 fazia da cidade uma das mais activas fontes de acontecimentos pop/rock do seu tempo. O punk estava assimilado e servia de base de trabalho para a invenção de novos rumos, entre eles o da própria canção pop. Entre muitos novos projectos que em finais de 70 começaram a vaguear pelo atento palco do CBGB contava-se uma banda que vinha de fora da cidade, mais concretamente de Athens (na Geórgia), mas que todos os fins-de-semana fazia questão de levar o seu laboratório pop ao coração da efervescente vida musical nova-iorquina, onde tudo se via, onde tudo se decidia. Chamavam-se B-52’s (nome de um penteado, tipo colmeia, o mesmo que as duas vocalistas mostravam) e, pela genuína carga de personalidade que a sua música e imagem mostravam, amálgama de referências pop, sobretudo colhidas na memória de finais de 50 e inícios de 60, rapidamente se viram entre os eleitos, tapete estendido para uma carreira que marcaria os anos seguintes.
Animados de um sentido de humor ostensivo e decididos a fazer de cada canção, de cada concerto, uma festa, estrearam-se em disco em 1979 com o inesquecível The B-52’s, que nasceu como fenómeno de culto, fez-se ao mundo e acabou reconhecido como um dos documentos fundamentais da new wave. Consagrando uma atitude que deles fazia originais entre os mais originais, os B-52’s cruzaram neste álbum toda uma mão cheia de referências pop, das ingenuidades pré-Beatles ao formatado surf, das letras que captavam o suspense e curiosidade sci-fi das séries B de 50 às mecânicas rítmicas white funk, algumas sugestões de vanguardismo arty, tudo isto sob fundações herdadas do punk. As vozes agudas de Kate Piserson e Cindy Wilson e o canto teatralizado, quase falado, de Fred Schneider vincaram mais ainda a identidade claramente distinta das demais que os B-52’s celebraram num disco que defniu o seu caminho (e o de alguns seguidores). O álbum é um dos registos fundamentais do seu tempo e mostra sinais evidentes de uma relação fortíssima da banda com a ideia da construção do single pop perfeito, com claros exemplos em Rock Lobster, Planet Claire ou Dance This Mess Around. Nota final ainda para a fabulosa perversão do clássico Downtown de Petula Clarke, agora com roupinhas new wave…
The B-52’s. “The B-52’s” (Island, 1979)
Se gostou, escute depois:
Lene Lovich. “Flex” (1980)
Devo. “Freedom Of Choice” (1980)
Tom Tom Club. “Tom Tom Club” (1981)